Alterações Bucais associadas à infecção pelo vírus C
A infecção por hepatite C é a responsável pelo desenvolvimento de diversas condições linfoproliferativas denominadas manifestações extra-hepáticas da hepatite C. Dentre estas alterações podemos destacar a presença na cavidade oral do líquen plano e da síndrome Sicca. O reconhecimento, diagnóstico e tratamento precoce dessas condições são fatores importantes para a manutenção da adequada saúde bucal, bem como podem contribuir com a melhora na qualidade de vida de pacientes infectados.
O Líquen Plano
O líquen plano oral é uma doença inflamatória crônica de natureza desconhecida e caráter imunomediado, ou seja, o sistema imunológico está envolvido no início e na manutenção do processo. Lesões de líquen plano podem ser verificadas nas bochechas (mucosas jugais), gengivas e línguas; essas lesões podem variar de placas esbranquiçadas e áreas avermelhadas a ulcerações em mucosa. As lesões de líquen plano normalmente acometem mulheres na proporção 2:1 (proporção mulher/ homem) na faixa etária dos 30 aos 50 anos de idade. Lesões esbranquiçadas normalmente são assintomáticas, sendo que lesões ulceradas ou avermelhadas normalmente causam desconforto durante higiene e alimentação. O diagnóstico é realizado através do exame clínico adequado, realizado pelo cirurgião - dentista estomatologista, complementado pelo exame de biópsia que confirma a suspeita clínica. O tratamento e acompanhamento são programados caso a caso baseados no aspecto clínico das lesões, somadas às queixas dos pacientes.
Síndrome Sicca
Condição autoimune, crônica e inflamatória caracterizada pela diminuição na produção de saliva (xerostomia) e lágrima (ceratoconjuntivite), resultado da destruição progressiva de glândulas salivares e lacrimais por células do nosso organismo que estão envolvidas no processo de defesa (linfócitos e plasmócitos). O diagnóstico da condição é efetuado pela equipe médica em conjunto à avaliação odontológica. Durante esta avaliação é realizada a quantificação do fluxo salivar, associada à biópsia de glândulas salivares menores. O tratamento da síndrome, além do acompanhamento médico, consiste em tratamento sintomático para a secura de boca da cavidade oral, tratando–se esta de uma doença progressiva.
Saúde bucal associada ao transplante hepático
A terapia de imunossupressão necessária para a realização do transplante hepático expõe o paciente ao risco de infecções que constituem a primeira causa de morbidade e mortalidade para este grupo de pacientes, principalmente ao longo do primeiro ano pós – transplante. As infecções mais freqüentes associadas à condição são de natureza bacteriana, viral e fúngica. Na cavidade oral as infecções tendem ser recorrentes e normalmente estão associadas à higiene oral deficiente. O controle dessas complicações pode ser prevenido e controlado desde que seja realizado adequado acompanhamento odontológico, associado ao tratamento da equipe médica.
A intervenção odontológica deve ser iniciada no período pré – transplante. O exame clínico bucal é complementado por exames de imagem, e o plano de tratamento estabelecido possui o objetivo de eliminar focos infecciosos, bem como prevenir infecções oportunistas que comprometam o sucesso do transplante. O acompanhamento odontológico pós – transplante possui foco preventivo. Neste momento, medicações bucais colutórias podem ser utilizadas para prevenção de infecções em associação a um rígido controle de higiene para a manutenção da saúde bucal.
Outra possível complicação associada à terapia de imunossupressão para o transplante hepático é representado pelo crescimento gengival medicamentoso. Este crescimento muitas vezes acontece devido ao tipo de medicação utilizada para indução da imunossupressão, associada à presença de placa bacteriana, inflamação gengival crônica e higiene oral deficiente. Em algumas situações a plastia (correção cirúrgica) gengival é necessária para a correção da alteração, e sempre deve estar associada ao tratamento/controle periodontal. Apesar de o procedimento cirúrgico muitas vezes ser necessário, vale salientar; que para estes casos, o controle de placa bacteriana é fator decisivo no desenvolvimento da alteração.
