Dra. Eloíza Quintela

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Desde 01/08/2007

Quadro clínico

 

Avaliação imediata da frequência cardíaca, pressão arterial, pulsos centrais e periféricos, perfusão cutânea, cerebral e renal, avaliação da diurese.

A hematêmese é confirmada pela observação de sangue vivo ou digerido no vômito ou pela drenagem da sondagem nasogástrica (valor preditivo de 93%).

No toque retal verifica-se a presença de melena, hematoquezia e sangue oculto nas fezes.

Hemoglobina e hematócrito seriados, plaquetas, provas de coagulação, uréia, creatinina, provas de função hepática e gasometria arterial são exames indicados na avaliação da HDA.

Uma relação entre a uréia e creatinina maior que 100 é sugestiva de HDA. A endoscopia digestiva alta (EDA) apresenta sensibilidade diagnóstica de até 95%.

A EDA deve ser realizada em até seis horas nas situações de alto risco: idosos, cirróticos, choque mantido após expansão volêmica adequada e sinais de hemorragia  volumosa, persistente ou ressangramento.

 

 

Tratamento clínico

Manutenção das condições cardiorrespiratórias: Prevenir aspiração

Reposição volêmica: Iniciar com cristalóides.
Outras medidas terapêuticas:

“A e B” – Manutenção das vias aéreas. A intubação traqueal está indicada quando há risco de aspiração por hematêmese volumosa ou rebaixamento do nível de consciência.

“C” – Acesso venoso: Infusão imediata de cristalóides e concentrado de hemácias conforme o estado hemodinâmico. O hematócrito deve ser mantido entre 25 e 30%.

“D” – Correção de déficits de coagulação e distúrbios eletrolíticos. Drogas para o tratamento da doença péptica (ranitidina ou omeprazol IV), octreotide e antibioticoterapia profilática nos pacientes cirróticos.

“E” - Endoscopia digestiva alta: reduz a mortalidade, complicações e custos hospitalares. Para o tratamento da hemorragia digestiva alta varicosa há como opções terapêuticas: balão de Sengstaken-Blakemore (na indisponibilidade ou falha do tratamento endoscópico) e TIPS (“transjugular intrahepatic portosystemic shunt”).
 
Esclerose ou ligadura elástica endoscópica das varizes de esôfago exerce papel fundamental no manejo dos pacientes cirróticos, pois permite a confirmação do local do sangramento concomitante com o tratamento, sendo esta a terapia de escolha na maioria dos casos.          

Após o tratamento com escleroterapia está indicada a utilização de bloqueadores H2, sucralfato ou inibidores da bomba de próton no intuito de prevenir e tratar as complicações descritas anteriormente.

           
Tamponamento com balão  (Sengstaken-Blakemore)

A indicação do tamponamento com balão está cada vez mais restrita e não deve ser utilizado como primeira alternativa, limitando-se apenas aos casos de hemorragia maciça não controlada com a terapia endoscópica e/ou farmacológica. Este tamponamento produz uma hemostasia temporária através da compressão direta das varizes na junção esofagogástrica, sua eficácia varia de 40% a 90%. A recidiva do sangramento pode ocorrer em aproximadamente 50% dos casos nas primeiras 24 horas após a desinsuflação do balão.

Shunt Portosistêmico Transjugular Intra-Hepático

A intervenção radiológica permite a colocação de uma prótese conectando a veia hepática e a veia porta. O shunt portosistêmico  transjugular intra-hepático (TIPS) está indicado na fase aguda quando o tratamento endoscópico não for efetivo, que é definido como a hemorragia varicosa recorrente após duas intervenções endoscópicas, durante a mesma internação, promove a hemostasia em 73% a 96% dos casos.
 A encefalopatia pode ocorrer em 25% a 75% dos casos.

 

 

 

 

Principais medicamentos utilizados para tratamento da HDA.

MEDICAMENTOS

DOSE

PRINCIPAIS EFEITOS COLATERAIS

ANTIÁCIDOS
Hidróxido de alumínio ou de magnésio

 

ANTAGONISTA DE RECEPTOR H2
Ranitidina

 

 

Cimetidina

 

 

INIBIDOR DA BOMBA DE PRÓTON
Omeprazol

 

 CITOPROTEÇÃO
Sucralfato

Misoprostol (agonista da prostaglandina)

VASOCONSTRIÇÃO
Vasopressina

 

 

Somatostatina

 

Octreotida (análogo da somatostatina)

 

b-BLOQUEADORES
Propranolol

 

ANTIBIÓTICOS*
Amoxicilina

Claritromicina

Metronidazol

- 0,5-1,0 ml/Kg/dose 1-4 h VO, não exceder 30 ml/dose e ajustar para manter pH gástrico > 4

 

- 4 a 6 mg/Kg/dia dividido 3 doses IV ou de 6 a 10 mg/Kg/dose dividido 2-3 doses VO, máximo de 150mg/dose. Infusão contínua de 0,1 a 0,25mg/Kg/h.

 

- 20 a 24 mg/Kg/dia dividido 4 doses IV ou VO, máximo de 2,4g/dia.
  Infusão contínua de 35 a 50mg/1,73m²/h.
 

-  0,7-3,3 mg/Kg/dose cada 12-24h IV ou VO, máximo 40mg.

 

- 1g/1,73m²/dose dividido em 4 doses VO, máximo de 4g/dose.
- 100-200mg cada 6-8h VO.

 

- 0,3U/Kg IV em 20 a 30 minutos, máximo de 20U. Seguido de infusão contínua de 0,001U/Kg/min, podendo ser aumentada a cada 2h até atingir 0,01U/Kg/min.
- 1 a 2 mg/Kg IV em 5 minutos, máximo de 250mcg. Seguido de infusão contínua de 1 a 2 mg/Kg/h, máximo de 250mg/h.
- 1 mg/Kg  IV em bolo, máximo 100mg. Seguido de infusão contínua de 1m/Kg/h, máximo de 50mg/h.
1 mg/Kg/dose (máximo 100mg) cada 8-12h subcutâneo.

- 0,5-1mg/Kg/dia dividido em 3 doses. Ajustar de acordo com a freqüência cardíaca.

- 20mg/Kg/dose cada 12h VO, máximo de 1,5 g
- 7,5 mg/Kg/dose cada 12h VO, máximo de 500mg
- 10mg/Kg/dose cada 12hVO,  máximo de 500mg

- Risco de pneumonia nosocomial, diarréia, constipação, interferência com absorção de medicamentos, depleção de fósforo e hipermagnesemia.

- Arritmias cardíacas, neurotoxicidade, interação medicamentosa, nefrotoxicidade, cefaléia, insônia e distúrbios gastrintestinais.

- Arritmias cardíacas, neurotoxicidade, interação medicamentosa, nefrotoxicidade,  hepatotoxicidade, cefaléia, insônia, mialgias, reações hipersensibilidae e distúrbios gastrintestinais.

- Diarréia, cefaléia e reações cutâneas.

 

- Constipação e náuseas.

- Náuseas, diarréia, distúrbios ginecológicos.

 

- Arritmias cardíacas, isquemia miocárdica e cerebral, hipertensão arterial e hiponatremia.

 

- Efeitos cardiovasculares discretos, náuseas e vertigem.

 

- Efeitos cardiovasculares discretos, náuseas e vertigem.

 

 

- Broncoespasmo, insuficiência cardíaca,  bradiarritmias e hipotensão.

 

- Reações de hipersensibilidade, náuseas e diarréia.
- Náuseas, vômitos, diarréia e elevação das transaminases
- Náuseas, vômitos, anorexia, prurido, urticária, confusão e alucinações.

*Para 80% a 90% de erradicação do H. pylori usar claritromicina + metronidazol ou claritromicina + amoxicilina juntos com omeprazol duas vezes por dia por 1 a 2 semanas. IV= intravenoso, VO = via oral.

 

A combinação do tratamento endoscópico com a octreotide apresenta uma efetividade maior com menor risco de complicações.

 

Tratamento cirúrgico

O tratamento cirúrgico das varizes de esôfago incluem a criação de um dos variados tipos de shunts  portosistêmicos  portocava ou esplenorenal e cirurgias de transecção esofágica e/ou devascularização.

As indicações para colocação dos shunts portosistêmicos estão restritas devido ao sucesso da terapia endoscópica e farmacológica para controle da HDA e, também, pelos avanços alcançados no transplante hepático com melhora da sobrevida.

Prevenção secundária de  sangramento
A prevenção secundária com b-bloqueadores está indicada em todos os pacientes após o episódio de sangramento. Inúmeros estudos demonstraram a eficácia destes agentes, em geral reduzem o risco de ressangramento ao redor de 40% e de mortalidade de 20%.

Os benefícios da escleroterapia têm sido confirmados pela maioria dos estudos e há uma diminuição da recidiva e da mortalidade quando utilizada em combinação com a terapia farmacológica.
A ligadura elástica parece estar relacionada com melhora da sobrevida e com índices de recidiva ainda menores e apresenta a vantagem de necessitar de menor número de sessões e mínimo risco de complicações.

A ligadura elástica seguida de escleroterapia para obliteração de pequenas varizes residuais parece ser mais efetiva em prevenir a recorrência das varizes com menor risco de complicação.
O transplante hepático é o tratamento definitivo para os pacientes cirróticos com episódios recorrentes de HDA por varizes esofágicas e doença hepática avançada e devem ser considerados em todos os casos.
O TIPS, ao contrário dos shunts cirúrgicos, não comprometem a realização de transplante posteriormente.