POSSÍVEIS COMPLICAÇÕES APÓS O TRANSPLANTE DE FÍGADO
O transplante poderá ser realizado e não apresentar qualquer complicação, mas é possível que ocorram algumas. Durante a fase inicial você será bem vigiado quanto aos sinais e sintomas de complicações possíveis e o tratamento necessário se iniciará prontamente.
As complicações mais comuns são: rejeição, infecção, hepatite no fígado novo, trombose arterial (coagulação do sangue na artéria do fígado) ou alguma dificuldade de drenagem de bile.
Rejeição
Sem os medicamentos específicos para modificar o seu sistema de defesa seu organismo rejeitaria o fígado novo. Isto porque o seu organismo tem um notável sistema de defesa que destrói as substâncias estranhas ao organismo, como as bactérias e os vírus, que invadem o seu corpo e fazem você ficar febril e doente.
Sabe-se que o sistema de defesa não consegue distinguir direito entre um micróbio e o fígado novo. Dessa maneira, o seu corpo reconhece o fígado transplantado como um ser estranho e tenta destruí-lo através de um processo conhecido como rejeição. A maior parte dos pacientes apresentam um ou mais episódios de rejeição durante a fase de recuperação. Na maioria dos casos, o primeiro episódio ocorre entre o 5º e o 10º dia pós operatório. As chances de rejeição diminuem com o tempo, mas ela pode ocorrer em qualquer momento após o transplante. É importante saber os sinais e sintomas da rejeição:
- Cansaço
- Letargia, apatia
- Febre (temperatura maior que 37ºC)
- Dor abdominal
- Fezes descoradas (claras)
- Urina escura
- Icterícia (amarelamento da pele)
- Alteração dos exames laboratoriais (enzimas do fígado)
Se você desenvolver algum dos sinais ou sintomas de rejeição comunique seu médico imediatamente. Às vezes a rejeição se manifesta de forma muito leve, praticamente sem sintomas, apenas com alterações de exames laboratoriais.
A rejeição pode ser leve, moderada ou grave. Na maioria dos casos a rejeição é controlada, mas deve ser tratada rapidamente. Geralmente é necessária uma biópsia de fígado para o diagnóstico definitivo.
Existem muitas formas para se tratar a rejeição, na maioria das vezes dados na veia:
- Solumedrol® (metilprednisolona - medicamento à base de cortisona)
- Prograf ® - Tacrolimus – FK 506
- Aumento na dose da prednisona (Meticorten ®)
- Muito raramente: o uso de outros imunossupressores, como por exemplo o anticorpo monoclonal (OKT3)
Infecção
Outra conseqüência da imunossupressão é o aumento do risco de infecções. Este risco é maior nos primeiros meses de transplante, pois a dosagem dos seus medicamentos ainda estará alta deixando o seu sistema imune pouco ativo. Você verificará que já na UTI todos os profissionais tomarão cuidado antes de mexerem com você, como por exemplo lavagem das mãos, colocação de aventais, luvas, etc.
Você deverá evitar contato com pessoas que você saiba que estão com alguma infecção, como por exemplo, gripe, doenças da infância como catapora e sarampo, etc. Lembre-se que lavar adequadamente as mãos é muito importante e pode prevenir a transmissão e disseminação de muitas doenças. Se não teve, ou se não lembra de ter tido caxumba, sarampo ou varicela (catapora) e foi exposto a uma destas doenças, deve comunicar seu médico ou o serviço de transplante imediatamente. Estas doenças são perigosas para os pacientes imunossuprimidos. Pode ser necessário o uso de vacinas dentro de 72 horas após o contato com pessoas infectadas.
Alguns sinais e sintomas de infecção são vermelhidão, calor local, pus (por exemplo, na incisão cirúrgica e no local do dreno), inchaço, dor, febre, tosse seca ou com catarro, diarréia, vômitos, ardor ao urinar, dor de garganta, etc.
Qualquer sinal de infecção deve ser imediatamente investigado.
Algumas infecções mais comuns são:
- CMV (citomegalovírus): Aproximadamente 90% da população já entrou em contato com este vírus e já tem o anticorpo. Após o transplante, devido aos medicamentos imunossupressores, esse vírus pode voltar a se manifestar, causando doenças em vários órgãos como intestino, pulmões e o próprio fígado.
- Herpes: Como no caso do CMV, aproximadamente 90% das pessoas já tiveram contato com o herpes, e a doença também pode se manifestar após o transplante.
- Monilíase (cândida ou sapinho): É uma doença causada por um fungo, acometendo principalmente as regiões da boca e genitais. É muito freqüente após o transplante e todos os pacientes fazem prevenção com o medicamento nistatina (Micostatin â).
A infecção na incisão cirúrgica também poderá ocorrer e para isso é preciso fazer um tratamento mais longo com curativos diários (3 vezes ao dia) e antibióticos.
Hepatite no Fígado Novo
A hepatite poderá ser causada por algum vírus (citomegalovírus, vírus C, vírus B).
Suspeita-se de infecção quando há alterações dos exames de sangue e esta é confirmada através da biópsia do fígado.
O tratamento varia de acordo com o tipo de infecção.
Trombose Arterial
A trombose arterial é outra possível complicação que ocorre após o transplante. Ocorre um entupimento na artéria (coagulação do sangue) que alimenta o fígado, sendo tratado conforme o grau de acometimento.
Caso não seja possível resolver a obstrução por meios percutâneos (radiologia intervencionista ou cirurgia), pode ser necessário novo transplante( retransplante), por isso a consideramos a complicação mais temível.
Complicações Biliares
Essas complicações poderão ocorrer quando há dificuldade na drenagem da bile. As possíveis causas são:
- estreitamento do canal da bile (canal que leva a bile do fígado para o intestino)
- dificuldade do esvaziamento da bile para o intestino
- vazamento da bile para dentro da barriga
Na maioria dos casos esses problemas são tratados com nova cirurgia , podendo as vezes ser resolvido com um exame realizado através de endoscopia (colangiografia endoscópica).