Alimentação na doença do fígado
A integridade hepática é fundamental para o aproveitamento de nutrientes. Qualquer distúrbio neste órgão possui um efeito impactante sobre o estado nutricional. Conseqüências nutricionais da lesão hepática:
Lesão Hepática Aguda: Independente da causa, a lesão hepática aguda está associada à anorexia, náuseas e vômitos. Portanto, a lesão hepática aguda provavelmente comprometerá a ingestão oral de alimento, mas se a doença tiver curta duração ou for autolimitada, as conseqüências nutricionais serão mínimas. Tanto a lesão hepática aguda alcoólica quanto a não alcoólica podem provocar hipoglicemia de jejum. Isso tem sido
- atribuído à depleção das reservas hepáticas de glicogênio e a um bloqueio da gliconeogênese a partir de aminoácidos.1
- Lesão Hepática Crônica: Complicações nutricionais são freqüentes quando a função hepática é prejudicada por lesão hepática crônica, particularmente cirrose. Independente da etiologia, a cirrose pode provocar nos pacientes alterações profundas de composição corporal e anergia a antígenos comuns em testes cutâneos. Os níveis circulantes de vitaminas lipo e hidrossolúveis estão baixos em uma grande porcentagem de pacientes com cirrose alcoólica. Níveis séricos reduzidos de vitaminas lipossolúveis são mais característicos da cirrose não alcoólica. Essas deficiências nutricionais surgem como resultado de um ou mais dos seguintes fatores: ingestão dietética inadequada, má digestão, má absorção e metabolismo defeituoso.¹
Avaliação do estado nutricional e estado geral para a alimentação
A avaliação do edema, principalmente em paciente cirróticos é extremamente necessária para desmascarar possíveis falhas na interpretação do Índice de Massa Corporal - IMC (Peso/Altura2). Na presença de edema significativo, anasarca ou ascite este parâmetro deverá ser considerado utilizando-se a tabela abaixo:
Tabela 1 Classificação de estado nutricional segundo IMC para pacientes com cirrose hepática segundo CAMPILLO e colaboradores
2006²
Classificação de Ascite |
Descrição |
Classificação de desnutrição |
Sem ascite |
Sem sinais de ascite |
IMC < 22 Kg/m2 |
Ascite Moderada |
Leves sinais de ascite ou em utilização de tratamento com sucesso para sua melhora (diuréticos, paracentese etc...) |
IMC < 23 Kg/m2 |
Ascite Grave |
Fortes sinais de ascite ou em utilização de tratamento sem sucesso para sua melhora (diuréticos, paracentese etc...) |
IMC < 25 Kg/m2 |
Outro ponto de extrema importância a ser observado é o nível de consciência do paciente. Em presença de encefalopatia hepática, o paciente pode demonstrar-se agressivo e/ou confuso e, portanto não conseguirá relatar adequadamente sua ingestão alimentar diária. Caso haja possibilidade, o acompanhante deverá ser consultado sobre os hábitos atuais de alimentação.³
Abaixo encontra-se uma tabela para classificação para os vários estágios de encefalopatia hepática:
Tabela 2 Estágios Clínicos de Encefalopatia Hepática
Estágio |
Manifestação Clínica |
I |
Diminuição do ritmo mental; ciclo de despertar alterado. |
II |
Confusão; comportamentos inapropriados. |
III |
Muito sonolento; marcadamente confuso; delirante; hiperreflexivo. |
IV |
Inconsciente |
Além disso, alguns pacientes deverão apresentar certos cuidados nutricionais no que diz respeito ao hábito intestinal. BOUIN e colaboradores, 20044 demonstraram que pacientes cirróticos com encefalopatia apresentam trânsito oro-cecal mais longo do que os pacientes cirróticos sem encefalopatia, e estes apresentam trânsito oro-cecal parecido com indivíduos saudáveis. Sendo assim, indivíduos cirróticos com encefalopatia deverão possuir maior assistência nutricional no que diz respeito ao controle de evacuações.
A conduta dietética oferecida deverá levar em consideração hábitos alimentares individuais de cada paciente que deverão ser sempre respeitados e adaptados quando necessário.
A terapia nutricional deverá ser discutida com a equipe médica sempre que alguma restrição dietética ou inclusão de suplemento for realizada segundo as recomendações para a doença hepática em cada caso.
Referências Bibliográficas
2. CAMPILLO, B. RICHARDET, J. P. BORIES, P. N. Validation of body mass index for the diagnosis of malnutrition in patients with cirrosis. Gastroenterol Clin Biol 2006; 30: 1137-1143.
3. LIZARDI-CERVERA, J. ALMEDA, P. GUEVARA, L. URIBE, M. Hepatic encephalopathy: a review. Ann Hepatol. 2003; 2:122-30.
4. BOUIN, M. VINCENT, C. BOUHIER, D. FATOME, A. PIQUET, M.A. VERWAERDE, J. C. DAO, T. Increased oro-cecal transit time in grade I or II hepatic encephalopathy. Gastroenterol Clin Biol 2004; 28: 1240-1244.