Hepatite C e Depressão
*Eloiza Quintela
Em diversos estudos analisados reportam sistematicamente um aumento da incidência de depressão nos portadores (com valores entre os 5.7% e 45%),assim como uma associação estatisticamente significativa entre depressão e dimensões tais como percepção da doença, incapacidade funcional, diminuição da qualidade de vida, gravidade da fadiga e presença de comorbilidade psiquiátrica ativa.
O impacto psicológico decorrente do conhecimento do diagnóstico da infecção por hepatite C e aos efeitos diretos do próprio vírus no Sistema Nervoso Central ( ex: através de citoquinas).
A infecção pelo vírus da Hepatite C (VHC) representa atualmente uma situação pandêmica, tendo sido estimado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que 3% da
população mundial (aproximadamente 170 milhões de indivíduos) se encontravam infectados pelo VHC em 1991.
A prevalência da infecção por VHC nos EUA foi estimada em 1.8%. No Brasil, Focaccia e Col em 1988, estimaram a prevalência no Brasil de 1,5%.
De acordo com os dados mais recentes, a via mais comum de transmissão do HCV está relacionada com o uso de sangue e derivados, drogas por via endovenosa, a qual tem vindo gradualmente a substituir a transfusão sanguínea como o mecanismo mais comum de transmissão do agente infeccioso nos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos esta
via de transmissão é responsável por cerca de 2/3 de todos os casos de Hepatite C, verificando-se que aproximadamente 90% dos toxico dependentes por via endovenosa se encontram infectados por VHC após cinco anos de consumo regular de drogas.
A transmissão sexual não é um mecanismo comum, tendo-se encontrado uma prevalência estimada de apenas 1.5% nos parceiros sexuais de indivíduos com Hepatite
C.
A progressão para Hepatite C crônica ocorre em 50 a 85% dos casos, com um curso insidioso e prolongado nos primeiros 20 anos. A hepatite moderada a grave desenvolve-
se em 1/3 dos doentes 20 anos após a infecção, e a cirrose ocorre em 15 a 20% dos doentes com hepatite C
crônica.
Os fatores que promovem a progressão para hepatite crônica incluem:
O consumo de álcool, sexo masculino, idade superior a 40 anos na altura da infecção e forma histológica grave na altura do diagnóstico inicial. A co-infecção com HIV e/ou Hepatite B também constituem fatores de risco para doença hepática mais grave e precoce.
O risco de aparecimento de carcinoma hepatocelular foi estimado em aproximadamente 7% após cinco anos do estabelecimento de cirrose e em 14% aos 10 anos, sendo mais alto no sexo masculino e nos indivíduos mais idosos.
Os indivíduos infectados com VHC podem apresentar diferentes problemas de natureza neuropsiquiátrica, entre os quais fadiga crônica, ansiedade, depressão e déficit cognitivos.
Duas linhas distintas de evidência epidemiológica parecem sugerir a existência de uma associação entre a infecção por VHC e a ocorrência de depressão. Por um lado, os indivíduos com Hepatite C crônica têm uma maior prevalência de perturbações psiquiátricas, incluindo depressão, por outro lado, os indivíduos com perturbações psiquiátricas (incluindo a depressão) têm uma mais alta prevalência de infecção por VHC que a população geral.
Características associadas com a depressão na Hepatite C
• É importante distinguir entre o impacto psicológico do conhecimento de se estar infectado com VHC e o efeito direto do próprio vírus. O modo particular de aquisição do VHC (por exemplo uso de drogas por via endovenosa) muito influencia.
• A depressão na Hepatite C está significativamente relacionada com a percepção da doença, a incapacidade funcional, a baixa qualidade de vida, a fadiga grave e com a presença de comorbilidade psiquiátrica ativa.
Num dos estudos revistos a depressão parece estar relacionada com a idade (mais avançada) e duração do diagnóstico.
• Nos estudos revistos, a depressão na Hepatite C não parece estar estatisticamente associada com o modo de transmissão, grau histológico ou medida funcional da doença hepática, status VHC RNA e variáveis sócio demográficas(exceto idade mais avançada).