DEPRESSÃO
UM GUIA PARA PACIENTES E CUIDADORES
Este manual foi elaborado visando auxiliar familiares e pacientes deprimidos, particularmente idosos, seus familiares e demais pessoas interessadas. A informação e orientação de pacientes e seus familiares é fundamental para o diagnóstico e o sucesso do tratamento da depressão.
Muitas vezes é difícil para uma pessoa com depressão expressar seu mal estar e aceitar estar com uma doença. Seus familiares e amigos encontram dificuldade para entender a mudança no comportamento, não sabem como agir.
Em medicina, tratamos a depressão como uma doença, com dignóstico e tratamento específico. Existem diversos tratamentos que comprovadamente aliviam e resolvem o sofrimento do indivíduo com depressão.
Quanto mais conhecimento pessoas e profissionais de saúde tiverem sobre depressão, e seu tratamento, maior será o número de deprimidos que receberá tratamento adequado.
As informações contidas neste manual não substituem o acompanhamento médico, visam informar e facilitar o tratamento proposto pelo médico
O QUE É DEPRESSÃO ?
Na medicina, utiliza-se “depressão” para designar uma doença com características clínicas e tratamento específicos. De forma geral, considera-se que um indivíduo é portador de depressão quando apresenta um ou ambos dos seguintes sintomas:
Tristeza persistente a maior parte do dia, na maioria dos dias que pode ser sentida pelo paciente ou percebida por outros.
Desâmino ou diminuição interesse ou prazer em relação a maior parte das atividades
Com frequência estão também presentes alguns ou vários dos seguintes sintomas:
Aumento ou diminuição acentuado no apetite
Alterações no sono, em geral insônia mas pode haver sonolência excessiva
Agitação ou prostração Fadiga, sensação de fraqueza e/ou diminuição de energia
Sensação de culpa e deseperança
Diminuição de concentração e memória
Ideias negativas, pensamentos sobre morte e ideias de suicídio.
Irritação ou agressividade
Diminuição de interesse e prazer sexual
Estes sintomas se manifestam com frequências e intensidades diferentes, em cada indivíduo. Muitos destes sintomas podem ocorrer isoladamente em qualquer pessoa, sem que necessariamente sejam considerados patológicos. Para ser considerados como doença, estes sintomas devem estar presentes a maior parte do tempo, por no mínio duas semanas, levando a problemas sociais e familiares, com importante impacto negativo na qualidade de vida
È importante frisar, que apenas o médico poderá confirmar ou descartar o diagnóstico de depressão
QUAL A DIFERENÇA ENTRE DEPRESSÃO E TRISTEZA ?
Utiliza-se com frequência o termo depressão como sinônimo de tristeza, mal estar, mal humor e períodos de desânimo. É comum ouvirmos alguém dizer: “Hoje estou deprimido”, ou “isto me deprime”, ou ainda “está situação é deprimente”. Nestes casos, depressão se refere a uma situação triste, desalentadora. È sempre importante lembrar que a tristeza é uma emoção humana normal, esperada em determinadas situações da vida de qualquer pessoa, sem que deva ser considerada uma doença.
Na depressão existe uma tristeza profunda, permanente, que não melhora com estímulos externos e que por vezes não tem uma causa definida. É uma tristeza patológica, um sintoma da doença depressão.
QUAL A DIFERENÇA ENTRE DEPRESSÃO E ANSIEDADE ?
Ansiedade, a sençação de sentir-se nervoso, preocupado com medo de sentir-se nervoso
A depressão nem sempre surgue na forma mais típica, descrita acima. Particularmente na terceira idade ela pode se apresentar de outros modos, ou ainda, com sintomas menos intensos, que também podem necessitar de tratamento. Cabe ao médico avaliar a intensidade dos sintomas e decidir em conjunto com o paciente e seus familiares o tipo de tratamento adequado a cada caso.
Existe uma idéia de que o idoso tem mais depressão que pessoas mais jovens. Nossa sociedade considera o envelhecimento deprimente e, portanto, o idoso tem que ser mais deprimido. Na prática, isto não se verifica. Idosos com boas condições de saúde, vivendo em seus lares, não têm mais depressão que a média das pessoas.
A depressão é uma doença comum em qualquer fase da vida, o que ocorre é que no idoso ela é mais prejudicial. Ela deteriora mais funções mentais como a memória, piora a saúde física e afeta mais a qualidade de vida. Idosos hospitalizados ou portadores de doenças crônicas e incapacitantes, estes sim têm mais depressão. Isto pode explicar em parte a impressão de que o idoso é mais deprimido.
Os mitos sobre a depressão no idoso podem ser fonte de atitudes preconceituosas de familiares e profissionais de saúde que atendem idosos. Considerar a depressão “normal” para a idade, pode significar manter sofrendo uma pessoa que poderia melhorar com tratamento.
Além do preconceito em relação ao envelhecimento, existe ainda muita confusão acerca do que é depressão, o que é normal para a idade, e qual a relação entre depressão e envelhecimento.
Quanto mais informação sobre esse assunto, menores serão os preconceitos e um número maior de idosos deixará de sofrer inutilmente.
O QUE CAUSA A DEPRESSÃO ?
A depressão é uma doença cerebral. As alterações que levam a depressão ainda não estão totalmente esclarecidas. Diversos fatores podem estar envolvidos no seu desenvolvimento. Podemos dividí-los em fatores facilitadores e fatores desencadeantes.
Dos fatores facilitadores, os mais importantes no idoso são:
A presença de doenças físicas e cerebrais, especialmente as doenças crônicas, que levam a incapacitação e favorecem o surgimento de depressão.
Medicações: o idoso em geral usa uma grande quantidade de remédios (muitas vezes sem orientação médica) e alguns deles podem causar depressão.
Piora nas condições de vida, diminuição de contato com familiares e amigos, falta de objetivos, falta de satisfação com a vida, são fatores importantes no surgimento da depressão. Deve-se notar que a maioria deles podem ser modificados, diminuindo as chances de se desenvolver depressão.
Fatores desencadeantes, em geral, são eventos que parecem estar relacionados ao início do quadro depressivo. Estes eventos são geralmente estressantes e podem ser repentinos ou não. É importante lembrar que situações insignificantes para quem observa de fora podem ter grande importância para a pessoa que as vive. A depressão pode começar após uma perda, um susto, um acidente ou uma modificação na vida, importante para aquela No caso do idoso, perdas freqüentemente desencadeiam a depressão. Dentre as perdas mais significativas está o falecimento de um ente querido. Este é um momento bastante delicado no qual o idoso deve receber atenção especial.
É importante lembrar que a tristeza é um sentimento humano normal e que períodos passageiros de tristeza e desânimo, principalmente após um fato traumático, não é significam nessariamente depressão - uma doença. O importante para determinar a necessidade de tratamento é o tempo de duração e o quanto estas reações podem comprometer a vida da pessoa.
O Luto pelo falecimento de uma pessoa próxima é uma situação especialmente traumática. É normal que a pessoa tenha vários sintomas de depressão nas primeiras semanas após o falecimento. A tristeza que acompanha o luto pode ser considerada normal, desde que não se prolongue por muito tempo (mais de 6 meses) e não limite em demasia a vida do indivíduo. Em alguns casos esta reação de luto pode ser muito intensa ou prolongar-se demais, caracterizando depressão.
Finalmente, existem alguns casos de depressão onde as causas não são muito claras. A causa existe mas não pode ser detectada. Às vezes, após a melhora da depressão seus motivos se tornam mais claros. Isto não diminui a importância da depressão e a necessidade de tratamento.
A DEPRESSÃO É HEREDITÁRIA?
Essa é uma pergunta freqüente no consultório. A resposta depende de quando a pessoa teve a depressão pela primeira vez. No caso das depressões que surgem ainda na juventude, há evidências de um componente genético, hereditário. Isto significa apenas que quem tem um familiar com depressão tem mais chances de ter depressão que outras pessoas. Nas depressões que afetam as pessoas pela primeira vez durante a terceira idade, este componente genético não é importante. A depressão no idoso está mais relacionada a fatores físicos e ambientais, que a herança genética.
HÁ MANEIRAS DE SE PREVENIR A DEPRESSÃO?
Sim, é possível adotar medidas preventivas e, como em qualquer outra doença, é mais fácil prevenir do que remediar. Especialmente os idosos que já tiveram depressão no passado, e aqueles com muitos fatores facilitadores devem preocupar-se com a prevenção.
Prevenção da depressão significa cuidado com a qualidade da vida do indivíduo, em todos os seus sentidos.
Cuidados com a saúde, atividades físicas regulares, alimentação saudável, são princípios fundamentais para ter uma boa qualidade de vida. Mas, cuidado com a saúde significa também, atenção com a saúde mental. Deve-se procurar manter o maior número de interesses e atividades possíveis, particularmente aqueles que dão prazer e satisfação.
Manter contatos pessoais e amizades é fundamental. Não apenas com familiares, pois estes muitas vezes não dão conta de satisfazer toda a necessidade de afeto do indivíduo.
Nunca é tarde para conhecer pessoas novas, desenvolver novas atividades que são um estímulo, uma indicação que ainda há muito por fazer. Manter metas e objetivos afasta a idéia de que a vida já acabou e não há mais nada a fazer. A pessoa sem perspectivas é séria candidata a desenvolver depressão.
A aposentadoria e o momento em que os filhos saem de casa são particularmente importantes. Aqueles que trabalharam a vida toda e não se prepararam para a aposentadoria, tem grandes chances de sentirem-se sós e sem objetivos quando se aposentam. Após algum tempo de descanso merecido, a pessoa se sente vazia sem perspectivas, pois não desenvolveu atividades e amizades fora do ambiente de trabalho. O mesmo ocorre com aquelas cuja principal ocupação foi cuidar da casa e dos filhos. Quando estes saem de casa para viver suas vidas, a vida de quem sempre cuidou, perde o sentido.
É importante que a pessoa reconheça as fases pelas quais passa pela vida, entendendo o envelhecimento com mais uma destas fases e se adaptando às modificações próprias desta fase. Não se deve ficar preso a comparações entre a situação atual com a de décadas atrás, desejando o retorno ao passado. Quem se prende ao passado não vive o presente e não consegue ver o futuro.
É importante reconhecer problemas psicológicos e enfrentá-los quando estes surgem. O idoso tem maior dificuldade para aceitar ser portador de uma doença mental ou de relatar queixas e sofrimento psíquico. Com isto, problemas pequenos que poderiam ser resolvidos com facilidade deixam de ser tratados, tornando-se evidentes apenas quando já são graves.
Quem já teve uma depressão deve cuidar-se para não ter uma recaída. Tratamentos devem ser interrompidos apenas com orientação profissional e não quando a pessoa já se sente aliviada.
COMO RECONHECER A DEPRESSÃO ?
Para o tratamento adequado da depressão é fundamental o reconhecimento e o diagnóstico correto. Um número muito grande de idosos deprimidos permanece sem tratamento adequado, pois os sintomas de depressão não são reconhecidos ou não são levados em consideração.
Os principais sintomas da depressão no idoso são:
Tristeza, desânimo e diminuição do prazer e interesse nas atividades. Na depressão estas sensações ocorrem na maior parte do dia por tempo prolongado (no mínimo 2 semanas). No idoso, a tristeza pode não ser tão evidente como na depressão em outras faixas etárias. Diminuição dos interesses e atividades, fraqueza e falta de energia, são sintomas mais comuns na terceira idade. Em geral ocorrem também:
Alterações no sono: insônia ou dormir demais.
Alterações no apetite: inapetência ou comer demais
Irritação, agressividade
Diminuição no prazer e interesse Mal estar físico e dores crônicas
Dificuldades com a memória e diminuição de concentração
Em idosos, às vezes o desânimo e a tristeza não são tão evidentes e a depressão se manifesta mais por sintomas físicos, irritabilidade e problemas de memória.
Vale lembrar que o fato de um sintoma ser compreensível, explicável pela situação do indivíduo, não diminui sua importância para o diagnóstico. Alguns dos sintomas da depressão podem ser confundidos com outras doenças, assim como com modificações comuns no envelhecimento. Deve-se ter atenção a modificações abruptas no sono, apetite, interesse e potência sexual, assim com repentina diminuição de interesses e atividades, que são importantes indicativos de depressão no idoso.
Qualquer dúvida sobre estar ou não com depressão pode ser esclarecida numa simples consulta médica. O diagnóstico correto da depressão, assim como o reconhecimento dos fatores a ela associados é fundamental para a instituição do tratamento adequado.
COMO SE TRATA A DEPRESSÃO ?
Deve-se tratar toda e qualquer forma de depressão que esteja piorando a qualidade da vida de uma pessoa, independente da causa.
Não há nenhuma justificativa para deixar um idoso deprimido sem tratamento. Por mais difícil que seja a situação que esteja vivendo, o tratamento sempre leva a uma melhora da qualidade de vida.
As depressões podem ser leves, moderadas ou graves. Depressões leves podem não necessitar de tratamento com remédios. Pode haver melhora com tratamentos psicológicos, ocupacionais e até com modificações orientadas no modo de vida.
Depressões moderadas ou graves, de regra necessitam tratamento com medicações, associado ou não a outros tratamentos.
Existem atualmente uma dezena de drogas chamadas antidepressivas, todas eficientes mas com características diferentes. ‘Não há remédios específicos para cada tipo de depressão e a escolha depende de cada caso.
Cada paciente tem uma indicação específica de tratamento, não existindo uma regra geral. Cabe ao médico avaliar o caso e indicar o medicamento a ser usado.
Este remédios tem ação lenta e gradual, e não se pode esperar melhora de uma hora para a outra. Num tratamento ideal, os sintomas começam a melhorar com uma semana de tratamento, com controle da depressão em 1 ou 2 meses. Às vezes a primeira tentativa de medicação não funciona. Isto não quer dizer que a depressão não vai melhorar, é necessário apenas tentar outras medicações. É muito raro depressão que não melhora, mesmo nos casos mais difíceis basta insistir no tratamento.
Idosos são mais sensíveis aos efeitos colaterais dos medicamentos, mas isto não quer dizer que não possam ser tratados adequadamente. O médico saberá adaptar o tratamento às características de cada paciente.
O tratamento não se faz só com medicamentos. Outras formas de tratamento são importantes para a depressão no idoso mas, infelizmente, tem sido pouco utilizados. São úteis tanto na prevenção como na manutenção da melhora, e visam um incremento da qualidade de vida do indivíduo, enfocando diferentes aspectos:
A atividade física orientada é comprovadamente importante para a manutenção do bem estar físico e mental, melhorando o apetite e a qualidade do sono.
Psicoterapia em grupo ou individual, auxilia a pessoa a lidar com conflitos e dificuldades da vida, assim como com suas emoções e comportamentos.
Atividade de terapia ocupacional procura a melhora da depressão através da atividade e da socialização, buscando motivar e desenvolver novos potenciais individuais, assim como aparelhar a pessoa para melhorar seu desempenho nas suas tarefas habituais e no contato com outras pessoas.
Atividades de fisioterapia são indicadas quando há limitações físicas ou funcionais que estão de algum modo relacionadas à depressão. A fisioterapia visa a recuperação de movimentos ou funções físicas.
É importante saber: quanto mais cedo se inicia o tratamento, melhores são as chances de uma recuperação rápida.
A participação do paciente e de seus familiares é fundamental no sucesso do tratamento. Não devem haver dúvidas sobre o tratamento. Esclareça-as com seu médico. Quanto mais seguros e confiantes estiverem o paciente e seus familiares, melhores serão os resultados do tratamento.
Após a melhora da depressão, o tratamento com remédios deve ser continuado por no mínimo 6 meses após a melhora para evitar recaídas, mesmo que a pessoa sinta-se completamente bem.
Para alguns, principalmente para quem já esteve deprimido mais de 2 vezes, remédios para prevenção podem ser necessários por muitos anos, como em outras doenças como a hipertensão ou a diabetes.
PRINCIPAIS CONCLUSÕES;
Preconceitos e falta de informação dificultam o reconhecimento e o tratamento da depressão em idosos.
A depressão no idoso pode ser mais difícil de reconhecer e diagnosticar do que a depressão em outras faixas etárias. Com isto muitos pacientes permanecem sem tratamento adequado.
Depressão no idoso deve ser sempre tratada. Não existe justificativa para deixar um idoso sem tratamento. O tratamento leva a melhora global da qualidade de vida.
As medicações e outros tratamentos são tão eficientes em idosos como em qualquer outra idade.
Manutenção de boa qualidade de vida é importante tanto no tratamento como na prevenção da depressão.
O tratamento da depressão não deve se restringir ao uso de medicações, é importante também dar atenção aos aspectos psíquicos e sociais.