Azia, Gastrite e Úlcera
O QUE É A AZIA?
Doença do refluxo gastroesofagiano. Refere-se ao retorno do ácido produzido dentro do estômago para o esôfago ( órgão tubular que leva o alimento da boca ao estômago). Este retorno pode causar danos a mucosa (pele que recobre todo o aparelho digestivo) levando a feridas. Estes machucados são chamados de esofagite. A maioria das pessoas descrevem a azia como uma sensação de queimação atrás do peito, que sobe para a garganta ou pescoço. Algumas têm ainda a sensação do alimento retornando à boca (fenômeno conhecido como regurgitação). Esta sensação pode durar em torno de duas horas e piora com a ingestão de alimentos.
É COMUM TER AZIA?
Sim. Aproximadamente 15 milhões tem diariamente. É mais comum na meia idade ou em pessoas idosas e durante a gestação.
QUAL É O TRATAMENTO PARA AZIA(DRGE)?
Em um número considerável de pacientes a mudança de hábitos alimentares ou de vida podem fazer o problema desaparecer.
- Evitar alimentos como chocolates, café, alimentos mentolados, gorduras ou frituras , condimentos, molhos picantes, tomate ou derivados e bebidas alcoólicas.
- Parar de fumar
- Emagrecer até próximo do peso ideal
- Evitar se alimentar 2 a 3 horas antes de deitar
- Fazer uso de medicações específicas – INDICADAS PELO SEU MÉDICO
QUANDO DEVO PROCURAR UM MÉDICO DEVIDO A MINHA AZIA?
Quando a azia não cessa com alterações dos hábitos de vida ou apresenta sintomas de azia duas ou mais vezes por semana, você deve procurar ajuda médica de um gastroenterologista.
Quando a DRGE é deixada sem tratamento pode levar a complicações sérias como dor torácica imitando um ataque cardíaco, estenose (estreitamento) do esôfago, sangramento, ou esôfago de Barret ( uma condição especial da mucosa do esôfago que pode ser foco de risco de surgimento de câncer ). Sintomas associados a complicações da DRGE incluem:
- Disfagia: sensação que o alimento está enrascado (entalado) e desce com dificuldade.
- Sangramento: sangue nas fezes ou fezes enegrecidas.
- Tosse ou afogar: sensação do ácido refluir para a garganta causando afogamento, tosse, rouquidão ou problemas respiratórios.
E A HÉRNIA DE HIATO?
A hérnia de hiato pode estar presente em vários pacientes que sofrem de azia , podendo ser uma das causas da doença do refluxo ou seu mantenedor.
Entre o tórax e o abdômen existe um músculo que separa estas duas cavidades chamado diafragma. O orifício por onde o esôfago passa pelo diafragma para chegar ao abdômen chama-se hiato. Normalmente o hiato é estreito dando espaço somente para a passagem do esôfago. Quando o hiato se encontra alargado por inúmeros motivos, o estômago "sobe" para o tórax formando a hérnia de hiato.
Na imagem ao lado observa-se o esôfago e uma porção do estômago que "subiram" para o tórax através de uma hérnia hiatal.
Não há necessidade de o paciente ter hérnia de hiato para ter doença do refluxo gastroesofagiano (azia).
Nem todos os pacientes que tem hérnia de hiato tem doença do refluxo. Nestes pacientes só há indicação de cirurgia quando a hérnia é muito grande e causa compressão de órgãos próximos a ela como pulmão e coração.
QUE TIPO DE EXAMES DEVO FAZER PARA CONSTATAR DRGE?
Seu médico provavelmente vai querer avaliar seus sintomas com exames para verificar se são secundários a DRGE ou se já apresenta alguma forma de complicação da doença. Os exames usualmente mais solicitados são:
- RX contrastado do esôfago , estômago e duodeno. ( exame utilizado em situações especiais)
- Endoscopia Digestiva alta
- Manometria e pHmetria esofágica
Gastrite e Dispepsia Funcional
Comer é uma coisa gostosa, e ninguém precisa sofrer com digestão difícil, náuseas, saciedade precoce, desconforto ou dor de estômago.
Em seguida, você receberá dicas e orientações que poderão ajudá-lo a viver melhor. Sabe onde começa a primeira etapa da digestão?
Na sua cabeça.
Antes mesmo de colocarmos um alimento na boca, a primeira etapa da digestão já está acontecendo na nossa cabeça. Basta perceber que estamos com fome ou com "vontade de comer" e pronto, os órgãos da digestão já estão começando a trabalhar!
Como é que isso acontece?
Quando o nosso organismo é estimulado através do cheiro, do sabor, ou simplesmente pela pura vontade de comer, existe um aumento da salivação e do suco gástrico (rico em substâncias ácidas), responsáveis pelo trabalho de digerir os alimentos.
Antes de engolir, nós trituramos os alimentos, através da mastigação, misturando-os com a saliva. E depois que a gente engole o alimento.
O alimento triturado começa a percorrer o esôfago - um tubo muscular localizado no meio do peito, que "conduz" o alimento até o estômago, através de movimentos de contração (peristaltismo). No final deste tubo existe uma espécie de "válvula" muscular chamada esfíncter. Quando as contrações atingem a parte inferior do esôfago, o esfíncter se abre e o alimento desce para o estômago. Em seguida, o esfíncter se contrai, impedindo que o suco gástrico e os alimentos retornem para o esôfago.
DEFINIÇÃO DE GASTRITE
O termo é usado por endoscopistas, que baseiam seus diagnósticos no que visualizam durante um exame; por patologistas, que o definem à base de apresentação histológica, isto é, o que enxergam no microscópio;
por radiologistas, por alterações grosseiras da silhueta da mucosa - o que veêm no RX; e por clínicos, que não usando nenhum método objetivo, admitem a presença de gastrite quando existem evidências clínicas sugestivas (alcoolismo, uso de medicações que causam irritação gástrica, ou dor intensa), dispepsia ou sinais de sangramento digestivo.
Na definição exata, gastrite significa inflamação da mucosa do estömago e, em primeira instância, a gastrite deve ser descrita de acordo com critérios histológicos (microscópio).
Por tal critério, ela pode ou não estar presente quando o diagnóstico for sugerido por meios clínicos, radiológicos ou mesmo endoscópicos.
Traduzindo: a confirmação final de gastrite só pode ser feita através do exame microscópico. O que acontece muitas vezes é que durante um exame endoscópico os sinais são tão exuberantes que o exame histológico (biópsia) é dispensada para uma segundo exame de controle do tratamento.
Atualmente a biópsia gástrica é realizada de rotina na grande maioria dos serviços de endoscopia para pesquisar a presença do Helicobacter pyloriUma bactéria descoberta em 1987 e hoje responsabilizada pelas gastrite e úlceras.
DIVISÃO DAS GASTRITES
Histologicamente, a gastrite é inicialmente dividida em erosiva e não erosiva;
Dentro de cada tipo de inflamação, se existir, pode ser aguda ou crônica (a diferenciação é feita através da visualização no microscópio da presença de células específicas que identificam a presença de inflamação aguda ou crônica).
A gastrite crônica é muito mais comum, mas as duas podem coexistir. A gastrite não-erosiva inespecífica crônica pode ser superficial ou profunda (transmucosa), com ou sem atrofia glandular ou metaplasia.
A gastrite decorrente da idade conhecida com atrófica é tão comum que alguns a consideram um fenômeno do envelhecimento. Seu aparecimento em jovens merece atenção especial.
A gastrite erosiva é melhor diagnosticada endoscopicamente.
GASTRITE TEM CURA?
Orientações ao Paciente sobre Gastrite e Dispepsia
A regra número 1 é como e o que comer:
Existem alguns alimentos que são naturalmente mais difíceis de digerir: frituras, alimentos gordurosos, doces
concentrados, chocolate, condimentos fortes, etc.
Além desses, cada um de nós percebe que um ou outro alimento não "lhe cai bem". Não adianta insistir.
É comer e passar mal!!! Por isso, evite esses alimentos.
Sabe o que mais? O estômago sofre quando a gente sobrecarrega demais, seja com o tipo de alimento, seja
com a quantidade de comida. É muito mais fácil para ele digerir pequenas quantidades. Experimente fazer refeições menores, mais vezes ao dia. Além disso tudo, observe: As preocupações, as tensões que não são bem "digeridas" pelo seu organismo, aquele assunto que
"não desce bem", podem provocar dor no estômago. E aí cada um precisa encontrar o seu jeito de lidar com a situação, porque preocupações e tensões todos nós temos.
E assim, como no caso dos alimentos, vale muito mais o seu procedimento: que você vai "colocar para dentro", o que não vai, como vai mastigar e digerir aquilo.
Se, mesmo seguindo essas dicas, você continua sofrendo com a alimentação do dia-a-dia, procure um médico.
Aquele remédio que deu certo para seu amigo pode não seradequado para você. Na consulta, ajude seu médico a ajudar você. Seu médico, e somente ele, poderá recomendar a medicação correta.
Para isso, é importante que você descreva claramente os seus sintomas. O que você sente exatamente? É uma dor ou um desconforto na boca do estômago? Sensação de estufamento? Azia ou queimação? Qualquer comida fica o dia inteiro "na memória"? Quando e em quais circunstâncias você sente isso? Antes ou depois da refeição?
O que normalmente alivia os seus sintomas? A alimentação? Um antiácido? O que faz aumentar os sintomas? Algum tipo de alimento em especial? Tensão emocional? Com que freqüência você tem estes sintomas? Várias vezes por dia? Uma vez por semana?
De acordo com o relato de seus sintomas mais importantes, seu médico poderá:
1- Aconselhar algumas adequações em seus hábitos de vida.
2- Prescrever medicamentos que facilitem o esvaziamento do estômago (pró-cinéticos), ou medicamentos que diminuam a produção de ácido (inibidores da bomba protônica ou antagonistas dos receptores H2).
Os medicamentos pró-cinéticos podem ajudar na digestão e os inibidores da acidez são eficientes para combater a dor e a queimação do estômago.
Enfim, conforme você percebeu, o bem-estar do seu estômago depende muito de você. Muitas vezes, você vai acabar comendo uma fatia a menos de picanha, vai trocar aquele sanduíche "caprichado no molho" por um outro mais leve.
Ou vai até mesmo resistir àquela torta de chocolate que só a sua
sogra consegue acertar e, sem perder a amizade, vai acabar maneirando naquele cupim maravilhoso que o seu amigo faz tão bem! Isso tudo em benefício do seu estômago e da sua saúde.
Sua saúde merece, e você também!
Úlceras
O QUE É UMA ÚLCERA?
A úlcera é uma área focal da mucosa(pele que recobre desde a boca até o ânus ) do aparelho digestivo que foi destruída pelos sucos digestivos. No caso da úlcera gástrica ou duodenal , a destruição é feita pelo ácido produzido pelo estômago. A grande maioria das úlceras não são maiores que um grão de ervilha apesar disso podem causar grande descomforto e dor. No alto à esquerda visualiza-se um corte microscópico de uma úlcera onde a porção roxa mais escura representa a mucosa que está interrompida . Abaixo à direita vê-se uma radiografia demonstrando o local da úlcera. Ao centro, a representação da úlcera propriamente dita. No caso uma úlcera gástrica.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS DA ÚLCERA?
O sintoma mais comum é uma sensação de dor tipo queimação ou vazio na boca do estômago (região epigástrica). A dor geralmente ocorre entre as refeições e algumas vezes acorda o paciente durante a noite. Pode durar durante minutos ou horas e geralmente alivia quando o paciente se alimenta ou faz uso de anti-ácidos. Outros sintomas menos comuns incluem náusea , vômitos , perda do apetite e peso.
QUAIS SÃO AS COMPLICAÇÕES DAS ÚLCERAS?
Hemorragia: O sangramento de uma úlcera pode ocorrer tanto no estômago como no duodeno sendo algumas vezes o primeiro sinal de suas existência. O sangramento pode ser lento causando uma anemia crônica e fadiga constante. Ou rápida podendo levar o paciente a Ter vômitos enegrecidos como "borra de café" ou evacuações enegrecidas e fétidas. ( o sangue sofre digestão e sua aparência torna-se enegrecida)
Perfuração: Quando as úlceras não são tratadas , o suco digestivo e ácido gástrico pode literalmente corroer a parede do estômago ou duodeno levando a uma perfuração. Derramamento abrupto de suco digestivo com ácido e alimento pode levar a uma dor intensa, aguda com necessidade de cirurgia de emergência pela presença de uma peritonite.
Obstrução: A presença da inflamação crônica de uma úlcera pode causar um inchaço local e cicatrização levando a diminuição do espaço por onde o alimento passa. Este fenômeno leva o paciente a ter vômitos tardios ( vomita conteúdo do almoço do dia anterior) e emagrecimento.
COMO AS ÚLCERAS SÃO DIAGNÓSTICADAS?
Sem dúvida atualmente o exame mais indicado é a endoscopia digestiva. Este constitui na inserção de um fino tubo, com uma luz na sua extremidade, através da boca até o esôfago, estômago e finalmente duodeno. É realizada com o uso de medicações sedativas . Durante o exame podem ser realizadas biópsias. A biópsia não causa qualquer dor ou desconforto e geralmente é do tamanho de uma cabeça de fósforo.
TESTES PARA O HELICOBACTER PYLORI
Existem vários testes atualmente disponíveis para se descobrir a presença de bactéria. Pode ser realizado um exame de sangue onde se verifica a presença de anti-corpos contra a bactéria; um teste respiratório onde se verifica a presença da bactéria pelos produtos formados de seu metabolismo e um terceiro método é através da biópsia realizada durante as endoscopias.
QUANDO É NECESSÁRIO A CIRURGIA?
A imensa maioria das úlceras são tratadas através de medicamentos. Quando são necessários múltiplos tratamentos sem sucesso ou existem complicações como sangramento constante, perfuração ou obstrução , a cirurugia é cogitada.
Helicobacter pylori
Um pouco da história...
Há mais de cem anos que se pesquisa uma provável origem bacteriana para as doenças do trato gastrointestinal superior. Em 1893 foi relatada pela primeira vez a presença de bactérias em forma de espiral no estômago de animais.
Em 1983 dois pesquisadores chamados Warren e Marshall isolaram pela primeira vez o Helicobacter pylori. Para provar que esta bactéria era responsável pelas gastrites e úlceras ,Marshall ingeriu uma cultura purificada de Helicobacter pylori. Os sintomas começar 7 dias após Marshall haver ingerido a cultura de bactérias e ao ser submetido a endoscopia foi constatado uma gastrite.
O que é....
O helicobacter pylori é um bactéria de formato espiral que está presente em grande número de pacientes com gastrite e em torno de 95% de pacientes com úlcera duodenal. Ela vive abaixo da camada de muco (tipo de saliva que os órgão do aparelho digestivo produzem) para se protegerem da ação ácida do estômago, a qual não resistiriam. Ou ainda entre as células do estômago. Tem preferência por um tipo especial de célula gástrica que se encontra no antro gástrico ( porção do estômago antes do duodeno).
Como é transmitida?
Fortes evidências mostram que aproximadamente 50% da população mundial tem esta bactéria.
A grande maioria das pessoas adquirem na infância. Quanto mais baixa a condição sócio-econômica maior a incidência de infecção da bactéria.
Não é transmitida através de animais.
O ser humano é o único portador desta espécie , portanto o meio de transmissão é através de pessoas contaminadas.
Quais são os sintomas ?
Os sintomas são variados.
A pessoa pode não Ter qualquer sintoma ou apresentar sintomas chamados dispépticos como náusea ,inapetência, estufamento, digestão difícil dos alimentos, gases, etc.
Outros sintomas incluem dor intensa tipo queimação ou vazio na boca do estômago geralmente secundário a uma gastrite ou úlcera que pode ser gástrica ou duodenal.
Porque variam tantos os sintomas?
Acredita-se que a bactéria sozinha não é capaz de causar a doença pois existe um número considerável de pessoas que estão infectadas e não tem qualquer sintoma ou doença.
Outros fatores associados podem desencadear o início da doença como idade, tabagismo, fatores genéticos, nível de secreção ácida do estômago , dieta, e muitos outros. O importante é saber que o tratamento não muda conforme esses fatores.
Como é feito o diagnóstico?
Existem 4 métodos mais utilizados:
- Através de uma biópsia durante o exame endoscópico . Este fragmento pode ser:
- Encaminhado a um serviço especializado de patologia clínica onde é examinado através de um microscópio; este exame leva alguns dias, ou
- Ser introduzido numa espécie de líquido ou gelatina que contém reagentes que mudam de cor devido a produtos químicos que a bactéria produz . Algumas horas depois já é possível saber se a pessoa está ou não com a bactéria. É um exame que apresenta uma eficácia de aproximadamente 98%
- Outra maneira é através de um exame de sangue onde é verificado a presença de anticorpos contra a bactéria. O problema é que depois do tratamento não é possível repetir este exame pois os anticorpos que produzimos ficam para sempre. São chamadas cicatrizes imunológicas.
- O terceiro método bastante utilizado é chamado de teste respiratório. A pessoa precisa ingerir uma substância específica sensível a presença da bactéria que é transformada, absorvida e eliminada através da respiração. É então solicitado para o paciente respirar num pequeno tubo que detecta a presença desta substância. É considerado um exame bastante preciso e sem riscos.
Existe alguma relação da bactéria com o câncer de estômago?
Sabe-se que um grande número de pacientes com câncer de estômago , principalmente alguns tipos em especial, tem a bactéria presente. Porém não existe qualquer comprovação direta da associação do helicobacter pylori com o câncer de estômago. A maioria dos trabalhos científicos são puramente especulativos e sem fundamento. Pesquisas continuam sendo realizadas neste sentido.
Como é feito o tratamento?
O tratamento é feito com vários esquemas antibióticos . O seu médico através de critérios pessoais deverá escolher o melhor para você.
Para se Ter uma idéia da importância do tratamento, pessoas não tratadas da bactéria tem chance de voltar a Ter úlcera ou gastrite em um ano, em torno de 80 a 95%. Pessoas tratadas tem próximo de 1% chance de voltar.
Como sei se estou curado?
Após 30 dias cessado o tratamento:
- Através do teste respiratório
- Através da biópsia