Entendendo a doação de parte do seu fígado para o Transplante Intervivos.
A avaliação e o preparo para o transplante intervivos são semelhantes aos dos candidatos ao transplante com doador falecido (cadáver).
O transplante intervivos deve ser considerado para qualquer paciente que se encontre em uma das situações abaixo:
1-Expectativa de sobrevida do paciente inferior ao tempo estimado de espera na lista de transplante com doador cadáver.
2-Desenvolvimento de hepatocarcinoma (Câncer de Fígado) em paciente cirrótico.
3-Morbidade crônica com comprometimento acentuado da qualidade de vida: incapacidade para o trabalho ou para o estudo, múltiplas internações, infecções recorrentes etc.
Aspectos éticos e legais
A lei federal nº 10.221, de 23 de março de 2001, Artigo 9º declara:
“É permitida a pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos ou partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge, ou parentes consangüíneos até o quarto grau, ... ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial ...”
A doação deve ser espontânea, sem evidência de atos de coerção.
A doação poderá ser interrompida pelo doador a qualquer momento, antes de iniciado o procedimento cirúrgico.
Será vetada a doação se houver qualquer indício de benefício material para o doador. A Lei de nosso país é clara. É proibido comércio de Órgãos.
Todos os aspectos da doação, incluindo riscos e complicações, devem ser claramente informados ao potencial doador, durante as consultas com a equipe de transplante e através do Termo de Consentimento Pós-informado.
O doador deve ser competente para avaliar e compreender o procedimento, aceitando seus riscos e complicações.
O doador deve ter boa saúde física e mental.
O grupo sangüíneo ABO deve ser idêntico ou compatível ao do receptor, não importando o fator RH.
São excluídos, em princípio, os portadores de doenças como:
1- Infecção pelo HIV
2- Hepatite pelos vírus B e C
3- Obesidade
4- Alcoolismo ativo
5- Doenças cardiovasculares ou pulmonares
6- Diabete
7- Doença psiquiátrica
A avaliação do doador inclui:
1- História clínica
2- Exame físico
3- Exames laboratoriais:
3.1- hematológico, coagulograma, enzimas hepáticas, bilirrubinas, glicemia, colesterol e triglicérides, uréia e creatinina, Na e K, marcadores tumorais (CEA, CA 19-9, Alfafetoproteína, Ca-125), tipagem sangüínea, urina tipo I e parasitológico de fezes.
3.2-Sorologias: vírus B e C, Chagas, sífilis, CMV, EBV, HIV 1 e 2 e HTLV 1 e 2.
4-Exames de diagnostico:
Ultra-som do abdome total, com Doppler do fígado.
Raio X de tórax e ECG e, se indicado, ecocardiograma.
Endoscopia digestiva alta
Nos casos de transplante entre adultos o doador deverá realizar ressonância magnética do fígado com volumetria hepática, além da angiorressonância e colangiorressonância para avaliação da anatomia vascular e biliar respectivamente.
OBS: A biópsia hepática é realizada somente nos casos em que houver indicação específica como, elevação das enzimas hepáticas ou alterações do fígado ao ultra-som.
Terminada a avaliação o caso será discutido pelos membros da equipe de transplante, quando então será decidida a sua aprovação.
O doador deverá assinar os Termos de Consentimento Pós-Informado a cada fase de exames que for realizando, e na ultima fase antes da cirurgia assina o documento que contém todos os dados sobre o procedimento, incluindo seus riscos e complicações.
Todas as informações relacionadas ao doador são consideradas estritamente confidenciais.
Sobre a cirurgia
Completadas as avaliações do doador e do receptor, uma data é selecionada para a cirurgia.
Uma unidade de sangue é colhida do doador pelo menos uma semana antes do transplante para auto -transfusão, se necessário
As cirurgias do doador e do receptor são realizadas simultaneamente por duas equipes diferentes.
A cirurgia do doador dura geralmente de 6 a 8 horas e a do receptor por volta de 8 a 10 horas.
A quantidade de fígado removida do doador varia de acordo com o tamanho do receptor. Para adulto geralmente usa-se o Lobo direito e para crianças o seguimento lateral. Essa cirurgia é possível devido à capacidade de regeneração do fígado.
No receptor o fígado doente é completamente removido e a parte do fígado retirada do doador (enxerto hepático) é implantada através de suturas vasculares e biliares.
As cirurgias do doador e do receptor são realizadas simultaneamente por duas equipes diferentes.
O pós-operatório do doador
Durante a avaliação pré-operatória todos os aspectos do procedimento são discutidos com o doador incluindo: anestesia, controle da dor, incisão cirúrgica, sondas, cateteres e drenos.
Encerrada a cirurgia o doador é encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva onde, na grande maioria das vezes, permanece por menos de 24 horas.
Em geral, a alimentação oral é reiniciada 24 a 36 horas após a cirurgia.
O paciente é submetido à fisioterapia respiratória e estimulado a sair do leito e andar, com ajuda, o mais precocemente possível.
Em geral a dor é bem controlada com analgésicos administrados por via peridural contínua e por via endovenosa.
O tempo de internação hospitalar varia de 5 a 7 dias. Na maioria das vezes o doador é capaz de retornar à sua atividade prévia 30 dias após o procedimento.
Atividade física intensa, profissional ou esportiva é permitida após 60 a 90 dias de pós-operatório.
Em cerca de 10% dos casos ocorrem complicações que podem retardar a recuperação dos doadores.
O transplante intervivos é tecnicamente mais difícil do que o convencional, apresentando maior número de complicações no receptor. No entanto, seus resultados são semelhantes ao dos métodos convencionais.
Atualmente, 20% do total de transplantes hepáticos realizados no Brasil são feitos com doadores vivos.
O transplante intervivos possibilita melhor preparo do receptor para a cirurgia, que é feita de maneira eletiva.
No transplante entre parentes não se observa redução da taxa de rejeição aguda em relação ao transplante proveniente de doador cadáver.
O risco de mortalidade do doador de lobo direito é estimado entre 0,5 a 1%, enquanto que o do doador de lobo esquerdo é de 0,2%.