Do ponto de vista de saúde pública a infecção pelo vírus da hepatite C (HCV) é uma preocupação crescente.
A Organização Mundial da Saúde estima que 170 milhões de pessoas em todo o mundo estão infectadas cronicamente.
É a principal causa de cirrose, de câncer de fígado (carcinoma hepatocelular) e mortes relacionadas a doenças do fígado nos países ocidentais. É também a indicação mais freqüente de transplante de fígado.
No Brasil calcula-se que 1,4 a 1,5% da população sejam portadores crônicos deste vírus ou seja, aproximadamente 3,2 milhões de pessoas.
O vírus da hepatite C foi reconhecido pela primeira vez em 1989 e já a partir de 1991, uma variedade de ensaios diagnósticos foram desenvolvidos e, consequentemente, além de ser possível detectar a presença do vírus nos materiais contaminados, permitiram também estudos mais detalhados a respeito da epidemologia, ficando claro que a grande maioria das infeções ocorreram antes daquelas datas.
O maior controle nas transfusões de sangue e derivados e o melhor conhecimento dos mecanismos de transmissão, permitiram o declínio na incidência, isto é, no número de novos casos. Só nos Estados Unidos, entre 1989 e 1997 o declínio na incidência anual naquele período foi de 80%.
Modos de Transmissão
O vírus da hepatite C é transmitido quando o sangue contaminado penetra na corrente sangüínea seja através de transfusões ou agulhas contaminadas ou através de seringas compartilhadas com outras pessoas; e em menor escala através de ferimentos, tatuagens, acupuntura, ”piercings”, instrumentos compartilhados de uso de drogas inalatórias, etc.
Resumindo, podemos dizer que as formas principais e mais comuns de transmissão são:
1. Transfusão de sangue e derivados de sangue
2. Transplante de órgãos
3. Hemodiálise (por material contaminado) e
4. Através de agulhas e seringas.
A transmissão da mãe para o bebe, o aleitamento materno e o
contato sexual são muito pouco freqüentes pois não são consideradas vias eficazes.
É importante lembrar que em aproximadamente um terço das pessoas contaminadas não é possível estabelecer a fonte de transmissão, quer dizer, não ficam sabendo como foi a contaminação.
Só a título de ilustração, a eficiência da transmissão do HCV é intermediária entre o vírus da hepatite B e o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Estudos baseados em acidentes com agulhas contaminadas em profissionais na área de saúde, picada por exemplo, revelaram que a probabilidade de realmente haver uma infeção com o HIV é de 0,4%, com o HCV é de 3% e com HBV chega a 30%.
Quadro clínico e evolução
Apenas cerca de 25% das pessoas que adquirem o vírus da hepatite C apresentam algum sinal ou sintoma. Por isso ela é muito pouco diagnosticada nesta fase, passando a grande maioria despercebida, evoluindo para as fases crônicas. A doença evolui para estas formas crônicas em 80% dos casos, de forma lenta e traiçoeira e destas, para a cirrose em cerca de 30% e em 15 % para o câncer de fígado. O portador passa anos convivendo com a doença sem saber de sua existência.
Na grande maioria das vezes a descoberta do vírus se dá por acaso, geralmente nos exames de sangue rotineiros ou no ato de doação de sangue.
A idade avançada, obesidade, sexo masculino, quantidade de vírus presente e uso de álcool, são alguns dos fatores que aceleram a evolução da doença.
Diagnóstico
É feito através de exames de sangue específicos e inespecíficos.
Os primeiros são também denominados de sorologias. Detectam a presença de anticorpos que o organismo produz contra o vírus mas frente a um exame positivo não é possível saber se a infecção está presente ou se a pessoa eliminou o vírus (cicatriz sorológica). Para tanto, usa-se outro exame, denominado PCR (reação de polimerase em cadeia) mais sofisticado, e que realmente confirma ou não a presença do vírus, definitivamente.
Os exames inespecíficos demonstram alterações no fígado que refletem indiretamente, algum dano hepático, como por exemplo a elevação das transaminases.
Por fim, a biópsia hepática, que é a retirada de um pequeno fragmento do fígado para exame do tecido, é o meio mais importante para detectar o grau do dano causado no fígado e a indicação ou não de tratamento.
Tratamento
É instituído em casos específicos e consiste na combinação de 2 drogas denominadas interferon e ribavirina. O sucesso é parcial e depende de inúmeras variáveis, principalmente relacionadas com a estrutura genética do vírus.
Prevenção
Não existe vacina para hepatite C, portanto, algumas recomendações são necessárias para sua prevenção:
Como a principal via de transmissão está relacionada com o sangue e seus derivados, é importante testar todo sangue coletado nos bancos de sangue bem como seus derivados; o que já é feito através de decreto lei .
Os doadores de órgãos, de tecidos e sêmen também devem ser testados.
Devem ser proibidos o uso de seringas e de agulhas não descartáveis que também já é regulamentado por lei e também desaconselhar o uso compartilhado de seringas e agulhas para injeções de drogas.
Como já foi dito, a via sexual não é a preferencial para a transmissão da hepatite C mas o uso de preservativos deve ser sempre lembrado principalmente em casos de múltiplas exposições sexuais com diferentes parceiros.