Figado: Teoria Humoral ou Teoria dos Quatro Humores
A Teoria Humoral ou Teoria dos Quatro Humores constituiu o principal corpo de explicação racional da saúde e da doença entre o Século IV a.C. e o Século XVII. Também conhecida por teoria humoral hipocrática ou galénica, segue as teorias dominantes na escola de Kos, segundo as quais a vida era mantida pelo equilíbrio entre quatro humores: Sangue, Fleuma, Bílis Amarela e Bílis Negra, procedentes, respectivamente, do coração, cérebro, fígado e baço. Cada um destes humores teria diferentes qualidades: o sangue era quente e húmido, a fleuma era fria e húmida, a bílis quente e seca e a bílis negra fria e seca. Segundo o predomínio natural de um destes humores na constituição dos indivíduos, teríamos os diferentes tipos fisiológicos: o sanguíneo, o fleumático, o bilioso ou colérico e o melancólico. A doença seria devida a um desequilíbrio entre os humores, tendo como causa principal as alterações devidas aos alimentos, os quais, ao serem assimilados pelo organismo, davam origem aos quatro humores. Entre os alimentos, Hipócrates incluía a água e o ar. A febre seria devida à reacção do corpo para cozer os humores em excesso. O papel da terapêutica seria ajudar a physis a seguir os seus mecanismos normais, ajudando a expulsar o humor em excesso ou contrariando as suas qualidades.
DOS QUATRO HUMORES ÀS QUATRO BASES
Desde a antiguidade e em várias civilizações, o número quatro tem um simbolismo especial: o da plenitude, da totalidade, da abrangência, da universalidade. Expressa, ao mesmo tempo, o concreto, o visível, o aparente, o criado, ao contrário do número 3, que espelha o transcendental, o espiritual, o abstrato, o divino. Nas palavras de Platão: "O ternário é o número das idéias; o quaternário, o da realização das idéias".
Esta concepção parece radicar-se no inconsciente coletivo, porquanto o mesmo simbolismo aparece também entre povos indígenas e tribos africanas
Os filósofos gregos da escola pitagórica tinham imaginado o universo formado por quatro elementos: terra, ar, fogo e água, dotados de quatro qualidades, opostas aos pares: quente e frio, seco e úmido. A transposição da estrutura quaternária universal para o campo da biologia deu origem à concepção dos quatro humores do corpo humano.
O conceito de humor (khymós, em grego), na escola hipocrática, era de uma substância existente no organismo, necessária à manutenção da vida e da saúde. Inicialmente, fala-se em número indeterminado de humores. Posteriormente, verifica-se a tendência de simplificação, reduzindo-se o número de humores para quatro, com seu simbolismo totalizador. No livro Das doenças os humores são o sangue, a fleuma, a bile amarela e a água. Na evolução dos conceitos, a água, que já figurava como um dos componentes do universo, é substituída pela bile negra. Admite-se que a crença na existência de uma bile negra tenha sido fruto da observação clínica nos casos de hematêmese, melena e hemoglobinúria.
No tratado Da natureza do homem, um dos mais tardios da coleção hipocrática, atribuída a Polybos, genro de Hipócrates, a bile negra é definitivamente incorporada como um dos quatro humores essenciais ao organismo.
Segundo a doutrina dos quatro humores, o sangue é armazenado no fígado e levado ao coração, onde se aquece, sendo considerado quente e úmido; a fleuma, que compreende todas as secreções mucosas, provém do cérebro e é fria e úmida por natureza; a bile amarela é secretada pelo fígado e é quente e seca, enquanto a bile negra é produzida no baço e no estômago e é de natureza fria e seca.
A doutrina dos quatro humores encaixava-se perfeitamente na concepção filosófica da estrutura do universo. Estabeleceu-se uma correspondência entre os quatro humores com os quatro elementos (terra, ar, fogo e água), com as quatro qualidades (frio, quente, seco e úmido) e com as quatro estações do ano (inverno, primavera, verão e outono).
O estado de saúde dependeria da exata proporção e da perfeita mistura dos quatro humores, que poderiam alterar-se por ação de causas externas ou internas. O excesso ou deficiência de qualquer dos humores, assim como o seu isolamento ou miscigenação inadequada, causariam as doenças com o seu cortejo sintomático.
Segundo a concepção hipocrática da patologia humoral, quando uma pessoa se encontra enferma, há uma tendência natural para a cura; a natureza (Physis) encontra meios de corrigir a desarmonia dos humores (discrasia), restaurando o estado anterior de harmonia (eucrasia).
Este processo se realiza em três etapas nas doenças agudas: apepsia, pepsia (cocção) e crisis. A crisis tem tendência a ocorrer em dias certos, o que levou Hipócrates a estudar os dias críticos de várias enfermidades.
A recuperação do enfermo acompanha-se da eliminação do humor excedente ou alterado. O médico pode auxiliar as forças curativas da Natureza, retirando do corpo o humor em excesso ou defeituoso, a fim de restaurar o equilíbrio. Com esta finalidade, surgiram os quatro principais métodos terapêuticos: sangria, purgativos, eméticos e clisteres.
Galeno, no século II DC, com o prestígio de sua autoridade, revitalizou a doutrina humoral e ressaltou a importância dos quatro temperamentos, conforme o predomínio de um dos quatro humores: sangüíneo, fleumático, colérico (de cholé, bile) melancólico (de melános, negro + cholé, bile). Colérico, portanto, é aquele que tem mais bile amarela, e melancólico, o que tem mais bile negra. Transfere-se, desse modo, para o comportamentos das pessoas, a noção de equilíbrio e harmonia dos humores.
As expressões "bom humor", "mau humor", "bem humorado", "mal humorado" são reminiscências dos conceitos de eucrasia e discrasia.
A doutrina da patologia humoral guiou a prática médica por mais de 2.000 anos e só começou a perder terreno com a descoberta da estrutura celular dos seres vivos graças ao desenvolvimento da microscopia. Os órgãos e os tecidos deixaram de ser considerados como massas consistentes resultantes da solidificação dos humores e passaram a ser vistos como aglomerados de células individuais, adaptadas à natureza e função de cada órgão.
Coube a Rudolf Virchow (1821-1902) estabelecer as bases da nova patologia, fundamentada nas alterações celulares causadas pelas doenças. A milenar doutrina da patologia humoral foi substituída pela patologia celular, o que representou um marco na evolução da teoria e da prática da medicina.
Ao mesmo tempo, o estudo da embriologia e do processo de divisão celular levou à descoberta das estruturas intracelulares, em especial do núcleo, dos cromossomas, dos genes, e, finalmente, do DNA (ácido desoxirribonucléico), substância primordial de todas as formas de vida, aquela que encerra o código genético, define os caracteres hereditários e assegura a continuidade das espécies.
A identificação cristalográfica e química do DNA, que permitiu identificar a sua estrutura helicoidal pode ser considerada um dos feitos mais notáveis da pesquisa biológica.
Na complexidade e diversidade das diferentes formas de vida, uma surpresa: o ressurgimento do número quatro nas quatro bases que integram o DNA: adenina, timina, guanina e citosina. Todos os seres vivos - animais, plantas, bactérias e muitos vírus - são o resultado de diferentes sequenciamentos e combinações dessas quatro bases na dupla hélice do DNA. E as quatro bases, por sua vez, são formadas de quatro elementos químicos: carbono, oxigênio, hidrogênio e nitrogênio.
No dizer do Prof. Spyros Marketos, presidente da Fundação Internacional Hipocrática de Cós, o modelo quaternário da escola hipocrática mostrou-se compatível com as recentes descobertas da biologia molecular.
Joffre M de Rezende
Prof. Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás
Membro da Sociedade Brasileira de História da Medicina
E Figado e o Humor
O conceito de humor (khymós, em grego), na escola hipocrática, era de uma substância existente no organismo, necessária à manutenção da vida e da saúde. Inicialmente, fala-se em número indeterminado de humores. Posteriormente, verifica-se a tendência de simplificação, reduzindo-se o número de humores para quatro, com seu simbolismo totalizador. No livro Das doenças os humores são o sangue, a fleuma, a bílis amarela e a água. Na evolução dos conceitos, a água, que já figurava como um dos componentes do universo, é substituída pela bílis negra. Admite-se que a crença na existência de uma bílis negra tenha sido fruto da observação clínica nos casos de hematêmese, melena e hemoglobinúria.
No tratado Da natureza do homem, um dos mais tardios da coleção hipocrática, atribuída a Polybos, genro de Hipócrates, a bílis negra é definitivamente incorporada como um dos quatro humores essenciais ao organismo.
Segundo a doutrina dos quatro humores, o sangue é armazenado no fígado e levado ao coração, onde se aquece, sendo considerado quente e úmido; a fleuma, que compreende todas as secreções mucosas, provém do cérebro e é fria e úmida por natureza; a bílis amarela é secretada pelo fígado e é quente e seca, enquanto a bílis negra é produzida no baço e no estômago e é de natureza fria e seca.
A doutrina dos quatro humores encaixava-se perfeitamente na concepção filosófica da estrutura do universo. Estabeleceu-se uma correspondência entre os quatro humores com os quatro elementos (Terra, Ar, Fogo e Água), com as quatro qualidades (frio, quente, seco e úmido) e com as quatro estações do ano (inverno, primavera, verão e outono). O estado de saúde dependeria da exata proporção e da perfeita mistura dos quatro humores, que poderiam alterar-se por ação de causas externas ou internas. O excesso ou deficiência de qualquer dos humores, assim como o seu isolamento ou miscigenação inadequada, causariam as doenças com o seu cortejo sintomático.
Do Sangue (Sanguis) |
sanguine, significando "resistente, confidente, otimista, alegre, feliz." |
Da Bílis Amarela |
bílis, significando "a qualidade ou estado do ser irascível";colérico, significando "irritado, irado, irascível"; bile, significando "inclinação a irritar-se, raiva (baço)"; bilioso (mau humor), significando "pevish, ruim"; amargo, significando "bitterness, rancor, insolence"; spleen, significando "malevolência misturada & mau temperamentado"; e ictérico (invejoso), significando "inveja, distaste, hostilidade." |
Do Fleuma (Phlegma) |
fleumático, significando "lento, estólido, indiferença, impassivo." |
E da Bílis Negra |
melancólico, significando "depressivo, tendência à depressão os espíritos, irascivel, triste, abatido." |
O papel do fígado (Gan) na Medicina Tradicional Chinesa
O fígado desempenha um importante papel no fisiologia tradicional chinesa. Como é ele que comanda o fluxo suave do qi por todo o corpo, qualquer desequilíbrio em suas funções geralmente afeta outro órgão.
A estagnação do fluxo do qi do fígado freqüentemente desequilibra o fluxo emocional, produzindo sentimentos de frustração e ira. Contrariamente, essas mesmas emoções podem levar a uma disfunção no fígado, resultando em um ciclo interminável de causa e efeito.
Associado com o armazenamento do sangue, o fígado também é o órgão primário envolvido no ciclo menstrual de uma mulher. Quando o fígado está desequilibrado, os seguintes sintomas podem ocorrer: problemas emocionais, dor ou sensação de estufamento nas costelas, vertigem, cefaléia, cólicas, problemas nos tendões, problemas menstruais, icterícia, visão fraca ou borrada e desordens digestivas.
As funções do fígado
O fígado armazena o sangue. O fígado é considerado uma área de armazenamento para o sangue quando este não está sendo usado para atividade física. Esses períodos de descanso contribuem para os processos restauradores do corpo. Durante o exercício, o sangue é liberado para nutrir tendões e músculos.
Essa função também está intimamente associada ao ciclo menstrual, pois o fígado mantém o suprimento de sangue adequado e regula o período e conforto da menstruação. Quaisquer disfunções no ciclo menstrual são quase sempre tratadas regulando-se o sangue do fígado, qi ou yin.
Quando o qi do fígado está estagnado (uma condição muito comum), uma pessoa apresenta os seguintes sintomas; irritabilidade, sensação de aperto no peito e, nas mulheres, sintoma de tensão pré-menstrual. Quando o sangue do fígado está deficiente, sintomas como olhos e pele secos, palidez e falta de menstruação podem ocorrer.
O fígado garante o fluxo suave do qi. O Nei Jing refere-se ao fígado como um general no exército, coordenando o movimento das tropas. Quando o fígado funciona suavemente, a atividade física e emocional por todo o corpo também ocorre suavemente.
Porém, quando a habilidade do fígado de disseminar o qi suavemente por todo o corpo é prejudicada devido a estresse ou opções de estilo de vida, o qi do fígado pode se tornar estagnado ou hiperativo, causando danos em outros órgãos, como pulmões, estômago e baço. Geralmente, problemas relacionados ao estresse, como síndrome do intestino irritável ou indigestão, podem ser tratados com sucesso trabalhando-se a "suavização do qi do fígado".
O fígado controla os tendões. Como vimos anteriormente, o fígado armazena sangue durante os períodos de descanso e depois libera-o para os músculos e tendões nos momentos de atividade. Quando o sangue do fígado está deficiente, rigidez e inflexibilidade dos músculos e tendões podem ocorrer. Se o qi do fígado está estagnado, os músculos podem sofrer espasmos. Esses espasmos musculares freqüentemente ocorrem quando uma pessoa ingere café forte. O café, mesmo a variedade descafeinada, é uma das substâncias mais nocivas ao fluxo suave do qi do fígado.
Muitas pessoas têm rigidez nos músculos dos ombros e músculos do pescoço após a ingestão desse poderoso estimulante herbáceo. De fato, pode ser extremamente difícil resolver desequilíbrios do fígado em pessoas que bebem café regularmente.
O fígado se mostra dentro dos olhos. Ainda que todos os órgãos tenham alguma conexão com a saúde dos olhos, o fígado está conectado à função adequada os olhos. Por exemplo, problemas oculares crônicos geralmente podem estar relacionados a uma deficiência do yin ou sangue do fígado. É bastante comum obter sucesso com problemas de desordem ocular tratando-se o fígado.
O fígado se mostra nas unhas. Quando o sangue do fígado é abundante, ele se espalha para as extremidades do corpo, incluindo as unhas dos pés e das mãos. Por outro lado, quando o sangue do fígado está deficiente, as unhas podem parecer pálidas, fracas e quebradiças.
AS EMOÇÕES E AS DOENÇAS – A Raiva e o Fígado
A RAIVA
A raiva é uma emoção que tem um amplo espectro. Outras emoções como o ressentimento, frustração, a indignação, a animosidade, a irritação, a amargura, o ódio, na realidade, são variações da raiva. Qualquer um desses estados emocionais pode afetar o fígado, se permanecerem por algum tempo no sistema.
A raiva nem sempre é manifestada expressamente com explosões, irritabilidade ou gritos. Há indivíduos que podem estar carregando raiva por anos, sem necessariamente manifestá-la. Nesse caso, instaura-se uma profunda depressão que drena a energia da pessoa, impedindo-a até mesmo de expressar a raiva. Esses são os casos daquelas pessoas que andam devagar, falam com voz suave, mas que estão cheias de raiva por dentro. Familiar? Bem, esse tipo de depressão, muitas vezes, é causada por um ressentimento, armazenado por muitos anos, muitas vezes contra um determinado membro da família.
A raiva pode afetar outros órgãos, como o estômago, por exemplo. Isso acontece invariavelmente quando a pessoa fica com raiva na hora das refeições. Porém, os intestinos são afetados quando se fica com raiva uma ou duas horas depois de uma das refeições. Um caso comum é aquele que o indivíduo vai para um trabalho estressante ou frustrante logo após o almoço. O Qi estagnado do fígado invade o intestino, causando dores abdominais, distensão e prisão de ventre com diarréia, alternadamente.
Todas as emoções, além de afetarem determinados órgãos diretamente, afetam o coração indiretamente. No caso da raiva, ela aumenta o fluxo de sangue no coração. Com o passar do tempo, provoca o aquecimento do sangue que além de afetar o coração, afeta também a mente.
As pessoas que estão sempre apressadas e as que fazem exercício excessivamente são particularmente suscetíveis à raiva.
A raiva pode em muitos casos disfarçar emoções como a culpa. Muita gente carrega uma carga enorme de culpa por anos a fio, mas não consegue ou não está preparado para reconhecê-la. Acabam usando a raiva para mascarar a culpa. Em países como a Itália, a Grécia e a Espanha, por exemplo, há famílias inteiras que estão permanentemente com raiva. A raiva é usada, porém, para mascarar sentimentos como a culpa, o medo, a fraqueza ou o complexo de inferioridade.
O lado positivo da energia que gera a raiva é força, dinamismo, criatividade e generosidade. Essa mesma energia que se perde, muitas vezes, em explosões vulcânicas, pode ser direcionada para fazer um indivíduo conseguir um objetivo na vida.
O FÍGADO
O fígado é o maior órgão do corpo humano. Pesando cerca de 1,5 quilo se localiza do lado direito, no quadrante superior da cavidade abdominal, protegido pelas costelas. Juntamente com o baço e a medula óssea forma um grupo de órgãos chamados de hematopoiéticos, responsáveis pela hematopoese, que é a formação e desenvolvimento das células sanguíneas.
É uma verdadeira indústria química, executando mais de 500 funções no corpo humano.
O bom funcionamento do fígado é tão fundamental para a saúde, no seu sentido mais amplo, que é considerado por algumas correntes da Medicina Oriental como o segundo coração.
Algumas das suas importantes funções são as seguintes:
- Integração entre os vários mecanismos energéticos do organismo.
- Emulsificação de gorduras através da secreção da bile
- Armazenamento e liberação de glicose
- Síntese de proteínas do plasma
- Conversão de amônia em uréia
- Desintoxicação de toxinas químicas produzidas pelo organismo.
- Desintoxicação de toxinas químicas externas ao organismo.
- Filtragem mecânica de bactérias.
- Controle do equilibrio hidro-salínico normal.
- Secreção da bile ou bílis.
Maus hábitos alimentares, o estresse e o comportamento raivoso são os piores inimigos do fígado. Dentro desse cenário, o açúcar refinado e o ácool são os piores vilões.
Na maioria das vezes o indivíduo que é impaciente e intolerante sofre do fígado. À medida que a situação vai se agravando, o fígado vai ficando tenso e, paralelamente a vida da pessoa vai se tornando insuportável. O fígado vai perdendo a sua capacidade natural de proteger o organismo das toxinas internas e externas, e a pessoa entra num processo de intoxicação que muitas vezes se torna irreversível.
Medidas de prevenção e tratamentos de recuperação desse órgão tão assoberbado, garantem boa saúde, disposição e vida longa.
Segundo a medicina ayurvédica, a pessoa que não tem um fígado funcionando bem não prospera na vida. Faz sentido, não faz?
Em geral, as hortaliças de cor verde são boas para o fígado. Dentre essas, as de cor verde escura são as melhores. O hábito de tirar o sumo de verduras e legumes crus e, tomar, pelo menos um copo, de preferência pela manhã em jejum faz muito bem ao “general”. Costumo chamar o fígado de general, porque ele comanda muitas funções no corpo.
Recentemente, conversando com uma amiga que é acupunturista e naturopata, ela me disse que o suco feito com a grama do trigo, o verdinho wheat grass tem o poder de curar cirrose, câncer de fígado e ajudar no tratamento da hepatite C. Ela ouviu esse comentário em uma das centenas de palestras que assiste sobre saúde. Acho que vale a pena acrescentar um pouquinho (não pode ser muito a prinçipio!) do sumo do wheat grass ao suco de vegetais.
O wheat grass é vendido em supermercados naturalistas. É preciso uma máquina especial para retirar o sumo da grama de trigo. Essa maquininha é manual e se assemelha bastante aos antigos moedores de carne.
Causas principais que prejudicam o fígado
1 - Dormir tarde e despertar tarde
2 - Não urinar pela manhã
3 - Comer demasiado
4 - Saltar o pequeno-almoço (café da manhã)
5 - Consumir muitos medicamentos
6 - Consumir conservantes, colorantes e adoçantes artificiais
7 - Consumir óleos de cozinha não saudáveis. Reduza o mais possível o consumo de alimentos fritos mesmo quando utilize azeites benéficos. Não consuma alimentos fritos quando estiver cansado ou doente a menos que seja muito magro, mas se puder, evite-o.
8 - Consumir alimentos crus ou demasiado cozidos sobrecarregam o fígado.
Os vegetais devem ser comidos crus ou pouco cozidos. Se consumes vegetais fritos deves fazê-lo de uma só vez, ou seja, não deves guardá-los para consumo posterior.
Devemos seguir estes conselhos sem que signifique maior gasto. Sé temos que adoptar um estilo de vida mais saudável e melhorar os nossos hábitos alimentares. Manter bons hábitos de alimentação e exercício é muito positivo para que o nosso organismo absorva o que necessita e elimine os químicos no seu "horário.
O Fígado na Medicina Tradicional Chinesa
O fígado, como todos os outros órgãos, tem uma função yin e outra yang. As funções yin estão ligadas à fisiologia e à bioquímica e não serão abordadas aqui; se houver necessidade, existem excelentes tratados para serem consultados. O conceito de órgão na MTC é bem mais abrangente do que o usado nas escolas ocidentais. Quando falamos no fígado, do ponto de vista energético, estamos falando do fígado propriamente, da vesícula biliar, dos olhos, dos ombros, dos joelhos, dos tendões, das unhas, dos seios, e todo o aparelho reprodutor feminino, desde ovários, trompas, útero e vagina. Por esse motivo, na MTC se diz que o fígado é o órgão mais importante para a mulher, assim como o rim é para o homem.
A energia do fígado é responsável por manter o livre fluxo da energia total do corpo. Como o movimento do sangue segue o movimento da energia, dizemos que o fígado direciona a circulação do sangue e regula também o ciclo menstrual. Mas o papel mais importante, sem dúvida é sobre o equilíbrio emocional, é a energia do fígado quem vai nos fazer responder a todos os estímulos emocionais, 24 horas por dia sem parar; daí já se deduz o desgaste intenso ao qual é submetido este sistema, e pouquíssimas atitudes são tomadas para auxiliar o fígado nesta tarefa, pelo contrário a nossa cultura parece fazer tudo para impedir o equilíbrio. Como todas as emoções boas ou más passam pelo fígado, não devemos reprimi-las a todo o momento. A repressão das emoções provoca um bloqueio da energia que vai levar à formação de calor no fígado. Este desequilíbrio energético pode se manifestar de várias formas. Dependendo da sua localização, podemos ter uma insônia, uma enxaqueca, uma precordialgia, uma hipertensão, uma gastrite, uma tensão pré-menstrual, e por aí vai.
Os adoecimentos podem ser de dois tipos, por falta ou por excesso de energia, ou usando um termo mais técnico, por vazio ou plenitude. Em relação às emoções que lesam mais especificamente o fígado vamos ter, num quadro de plenitude, a raiva, mais exatamente a raiva reprimida e, num quadro de vazio, o pânico, que agora virou síndrome de pânico.
Cabe aqui fazermos uma distinção entre sentimento e emoção. Os sentimentos geralmente fortalecem os órgãos e servem como mecanismos de defesa para o nosso organismo. Por exemplo, uma sensação de apreensão é diferente do medo. A primeira nos coloca num estado de alerta diante de uma certa situação, sem nos limitar em nada, nos protegendo dos perigos. O medo por sua vez nos limita e nos paralisa. A mesma coisa em relação a uma certa irritação que nos leva a reagir quando somos atacados ou nos sentimos lesados, que é diferente da raiva que tem um grau mais intenso. O importante é entender que todos os sentimentos atuam bem no organismo, tudo depende da intensidade e por quanto tempo. Da mesma forma que o sal, o orégano e a pimenta são temperos usados na alimentação, os sentimentos são o tempero da nossa existência. A qualidade de nossa vida dependerá da quantidade e da forma com que serão usados.
Como já foi dito, o fígado rege praticamente todo o sistema reprodutor feminino e é responsável por alterações no seu funcionamento que vão desde alterações no ciclo menstrual, os cistos de ovário, miomas uterinos, corrimentos vaginais, prurido vaginal, alterações da libido, como frigidez e impotência. Em algumas doenças só a energia do fígado está em desarmonia, e em outras existe também desequilíbrio de outros órgãos.
O fígado rege as articulações do ombro e joelhos e também os tendões de modo geral. Assim sendo, as bursites e as dores nos joelhos sem causa aparente, são sinais de comprometimento da energia do fígado. As tendinites e os estiramentos freqüentes também estão neste grupo.
Os olhos são a manifestação externa do fígado, e suas patologias também vão nos indicar algumas alterações no fígado, as mais comuns são as conjuntivites, os olhos vermelhos sem processo inflamatório, os terçóis, os pontos brilhantes que aparecem no campo visual e outros.
As unhas são outra manifestação externa das condições do fígado, e as suas deformidades ou a presença de micose vão nos sugerir algum comprometimento na estrutura yin do fígado, ou desequilíbrio prolongado da energia do fígado.
Para concluir, o fígado comanda o funcionamento do sistema nervoso e é o responsável pelas alterações funcionais como as várias formas de epilepsia, as alterações no raciocínio, os desmaios e as perdas de consciência de modo geral, e as doenças degenerativas como o Parkinson.
Todo órgão está acoplado a uma víscera que, no caso do fígado, é a vesícula biliar, que em geral tem um papel secundário para o funcionamento do sistema. Resumidamente, a vesícula atua mantendo o nosso equilíbrio postural. Todos os quadros de tonturas, vertigens, labirintites estão ligados a ela. Rege a articulação têmporo-mandibular (ATM). Todas as tensões que ficaram retidas no fígado podem descarregar nesta região e produzir um quadro de ranger os dentes (bruxismo), que se manifesta mais freqüentemente durante o sono. Ao nível emocional a vesícula biliar comanda o nosso processo de decisão, e seus desequilíbrios vão se apresentar na forma de indecisões ou mesmo desorientações, perda de rumo.
A lágrima é a secreção interna que ajuda a aliviar o fígado. Deste fato vem a importância de não se reprimir o choro, embora nem sempre seja conveniente socialmente. Mas, pode acreditar conter o choro faz mal à saúde.
Agora que já temos uma idéia de como é estar com a energia do fígado desequilibrada, vamos fazer alguma coisa para ajudar. O mais importante é a harmonia das emoções, isto é, as emoções não devem ser reprimidas. Nós devemos senti-las e deixá-las fluir, evitando o apego emocional. Depois, evitar os medicamentos químicos, as bebidas alcoólicas, os temperos picantes, se não puder evitar, usá-los com moderação. Na alimentação, optar pelas coisas de cor verde, e usar de preferência verduras cruas.
Extraído do livro Mudança de Hábito Alimentar de Dr. Fábio Miranda Pisani