Estudo liga risco de câncer hepático a hipotireoidismo
Mulheres com hipotireoidismo (distúrbio que diminui a produção de hormônios) podem ter risco três vezes maior de desenvolver câncer de fígado do que aquelas que não têm a doença, sugere estudo realizado por pesquisadores do MD Anderson Cancer Center (EUA), publicado neste mês na revista científica "Hepatology".
De acordo com os pesquisadores, se a mulher também tiver diabetes, o risco é aumentado em 9,4 vezes. E se ela somar o hipotireoidismo à hepatite B ou C crônica, o risco de ter a doença aumenta 31,2 vezes. A mesma condição não foi observada entre os homens -por razões ainda não explicadas.
O estudo foi realizado com base nas respostas a um questionário aplicado para 420 pacientes em tratamento contra o câncer no fígado e para um grupo controle, formado por 1.104 pessoas teoricamente sadias.
Entre os pacientes com câncer entrevistados, 12% afirmaram ter hipotireoidismo e, no grupo controle, 8% relataram ter a doença. Para os pesquisadores, a diferença é suficiente para estabelecer uma relação até então não quantificada entre as duas doenças.
Como o hipotireoidismo provoca uma deficiência na quantidade de hormônios circulando no organismo e altera toda a função metabólica --aumentando os níveis de colesterol, por exemplo--, os pesquisadores acreditam que isso pode aumentar o risco de a pessoa desenvolver esteato-hepatite (acúmulo de gordura no fígado) e, consequentemente, aumentar o risco de cirrose ou do desenvolvimento de um tumor.
O estudo tem um impacto muito forte por sugerir que a disfunção na tireoide, sozinha, apresenta um risco aumentado de a mulher desenvolver um tumor hepático -quinto câncer mais incidente do mundo.
"Os resultados me surpreenderam. Existem alguns estudos que relacionam o hipotireoidismo com problemas hepáticos [no caso, a esteato-hepatite”, mas nenhum trouxe uma associação direta entre a disfunção tireoidiana e o risco de câncer", afirma estudiosos.
Maia ressalta, entretanto, que o estudo não deixa claro se as mulheres que tratam adequadamente o hipotireoidismo também têm o risco aumentado. "Teoricamente, quem trata a doença não tem mais a alteração hormonal e não vai ter problemas hepáticos. Assim, sairia do grupo de risco”.
Predisposição
Os resultados podem se tornar mais uma ferramenta de acompanhamento dos fatores de risco em mulheres com predisposição a câncer hepático (que somem alcoolismo, obesidade e diabetes).
"Não é todo o mundo que tem hipotireoidismo que vai ter câncer. Esse é um dos primeiros estudos a mostrar uma relação direta entre a doença da tireoide e o aumento de risco para o tumor de fígado. Acho que os resultados mostram uma relação aumentada de risco e não de causa", afirma Coimbra.
Os hepatologistas devem ficar mais atentos a alterações no funcionamento da tireoide. "Os dados são mais uma arma para prevenir o hepatocarcinoma, combinados ao tratamento da hepatite, do diabetes e do alcoolismo".