O que é a icterícia?
A cor amarela da esclerótica dos olhos, das mucosas e da pele é consequência do aumento da bilirrubina, no sangue e nos tecidos, acima dos valores normais.
Os nossos glóbulos vermelhos são destruídos 120 dias depois de nascerem na medula óssea. Todos os dias nascem e são destruidos glóbulos vermelhos no nosso organismo. Um dos produtos da destruição dos glóbulos vermelhos é a bilirrubina que é captada pelas células do fígado e eliminada pelas vias biliares até ao duodeno. Se a destruição dos glóbulos vermelhos é muito grande ou se há um obstáculo no fígado ou nas vias biliares que dificulte a passagem da bilirrubina para o duodeno, ela aumenta no sangue e dá a cor amarela às mucosas e depois à pele.
Icterícia deriva do grego Íkteros nome dado ao verdelhão, um pássaro de plumagem verde-amarela.
Quais as causas da icterícia?
Muitas doenças podem causar icterícia: doenças do fígado, doenças das vias biliares e doenças que provocam hemólise dos glóbulos vermelhos.
O médico para concluir qual a causa duma icterícia interroga o doente, pede análises ao sangue e quando necessário recorre a outros exames ( Ecografia, TAC , CPRE, biopsia hepática, etc. ). Por vezes, este estudo, pode demorar dias ou semanas, até se chegar a uma conclusão mas, com os meios de diagnóstico de que hoje dispomos ( bioquímicos e de imagem ), é raro não se conseguir um diagnóstico correto, a curto prazo.
A icterícia é pois, um sinal comum a muitas doenças, e não uma doença. Algumas dessas doenças são auto-limitadas ( curam sem necessitarem de tratamento, como acontece com a Hepatite A ) outras necessitam de tratamento médico e outras de tratamento cirúrgico.
Icterícia não é sinônimo de hepatite. Na maior parte das vezes, as hepatites, nem sequer, apresentam icterícia.
Um naco de prosa:
... Amarelo só fiquei quando tive hepatite, felizmente do tipo A, daquelas que se curam quase sempre sem seqüelas. Foi então que se fez luz! Afinal um dos temas das minhas palestras era sobre doentes ictéricos, daqueles que ficam com a pele e os olhos cor de canário. Vou escrever sobre o prazer de os restitui à cor natural. Infelizmente existem muitas doenças que se tratam cirurgicamente quando os doentes ficam amarelos. Desde as simples pedras na vesícula, que às vezes pregam partidas e resolvem emigrar ou inflamar a sua casa natural, até aos mais complicados tumores que entopem as vias excretoras da bílis, quer ao nível dos próprios canais, quer quando atravessam o pâncreas antes desaguar no intestino. Também há doenças do próprio fígado que são causa de "doenças amarelas". É um grande desafio o tratamento destes doentes que pode variar desde o simples tirar da vesícula, agora quase sempre feito pela técnica dos buraquinhos, até à substituição do fígado doente por um novo, de uma pessoa que já morreu e não precisa dele para nada. É isto que se chama um transplante hepático. Assistir depois de um transplante ao "destingir" destes doentes é um sinal de que tudo correu bem e dá um enorme prazer. Qualquer cidadão sabe que estar amarelo e com a urina cor de vinho do Porto não é bom sinal. Ao ver-se ao espelho o doente sabe imediatamente que algo não está bem. Está amarelo e procura o médico por razões óbvias. No caso de ser operado sabe também como o seu cirurgião se as coisas estão ou não a correr bem. Trata-se de constatar a mudança da cor e de ouvir os familiares e os amigos opinarem: " Estás a ficar melhor, estás muito menos amarelo!". Para a febre amarela há hoje vacina. Para a hepatite B também e é um verdadeiro crime os pais não vacinarem os filhos, sobretudo quando se aproxima a adolescência. Operar os doentes amarelos é portanto uma das minhas missões...